2 de fevereiro de 2014

Medusas

     Na mitologia grega, Medusa era uma bela mulher. Desejada por todos os homens e invejada por todas as mulheres.
     No entanto, como sacerdotisa de Atena, devia se manter virgem em honra a Deusa Guerreira. Sendo assim, sempre declinou o assédio de todos os pretendentes que a cortejavam.
     Mas sua beleza chamou atenção não somente dos homens, mas do Deus Poseidon, que invadiu o templo de Atena e violentou Medusa.
    O ocorrido despertou a ira da Deusa, que puniu Medusa, transformando-a em um monstro horroroso. Logo, Medusa, a mais bela das mulheres ficaria conhecida como Górgona, a feia criatura que petrificaria a todos que ousassem olhar em seus olhos.
    Antes caçada por sua beleza, Medusa agora é caçada por sua maldição, muitos heróis buscaram matá-la para se apoderar de seu poder, uma arma importante em uma batalha.
    Simplificando, eis o mito de Medusa! Se observarmos que muitos mitos nascem de situações cotiadianas, vemos até hoje tantas medusas, poseidons e atenas espalhados pelo mundo...
 
 
    Ler nos jornais que há um aumento no número de casos de estupro no Brasil, segundo o Ministério Público são 50 mil por ano, os estupros coletivos na Índia, a prática de retirada do clitóris na África, tantos e tantos abusos contra a mulher, sempre as mesmas histórias, tão exaustivamente retratadas em filmes, livros, documentários. A pergunta que fica é: por que não muda?
    Como sociedade, entendemos que somos criaturas civilizadas aptas a partilhar de uma vida em conjunto, contudo uma mulher que tenha sido violentada frequentemente sofre escárnio das autoridades que a atendem, de seus vizinhos, até de seus familiares. É pensamento comum que ela pediu para que acontecesse ao sair na rua com uma saia mais curta, um decote ou mesmo por andar desacompanhada! Mas paro e penso, que bando de animais somos nós, que não podemos observar uma mulher passar na rua com uma roupa curta que devemos sair por ai gritando e urrando atrás dela!?
   Existe uma clara falta de respeito para com o próximo, observá-lo como pessoa e não como um objeto para quaisquer que sejam os fins. Perpetrado em novelas, em filmes, em música, no boca a boca, esta cultura, vejo com pesar, se intensifica. Não há homens e mulheres, mas machos e fêmeas no sentido mais primevo da palavra.
    A quem podemos culpar? Ao homem que sem carater violentou uma mulher? Fazendo as vias de advogado do diabo, existe toda uma série de reforços ao longo de toda sua criação como pessoa que lhe dizem que ele pode tomar, é de seu direito e instinto, um "não" saído da boca de uma mulher sempre pode virar um "talvez" se insistir...
   Deve-se culpar as mulheres, que deixaram esta situação se reforçar através dos anos. De permitir e educar seus filhos a esta maneira tão "machista"? De rotular uma mulher devido a seu comportamento?
   Não se pode culpar indivíduos, não quando eles vivem em sociedade, a culpa tem de ser minha, sua, partilhada por todos... Não importa se estas situações ocorrem aqui no Brasil, na Índia, na África, lembrando um pouco de Boff, somos cidadãos do mundo! Cabe a nós passar adiante, sempre reforçando sem esmorecer a ideia de seres humanos, não mais de gêneros, crenças ou quaisquer outros rótulos, uma mentalidade mais empática e racional... Do contrário, deixemos de lado toda a civilidade e voltemos as cavernas!
 

Campanha contra estupros em prisões nos EUA da Ong Stop Prisoner Rape
 

     Deixo duas obras sobre o tema e a campanha (famosa na web) que humoristas indianas fizeram contra o estupro em seu país, faço um adendo sobre o termo Bhaiya que significa "irmão", sendo utilizado entre amigos, quando próximos. Muitos sacerdotes (homens-santos mencionados), condenaram as ações de estupro, no entanto, alguns sugeriram que as vítimas deveriam tratar seus estupradores como irmãos, demonstrando amor e compaixão para com eles.
 
 
 
     Beautiful: drama coreano de 2008 que conta a história de Eunyoung, uma mulher de beleza deslumbrante, mas que se sente triste pelas situações que passa em razão dessa beleza. Até que após um acontecimento terrível em sua vida ela começa a matar sua aparência, considerando sua beleza uma maldição...
     Um filme bem intenso, que passa muito do que as mulheres passam, desde de abusos até os rótulos como beleza, forma de vestir.


 
     O Harém de Kadafi: este livro escrito pela jornalista Annick Cojean, do jornal Le Monde, é um relato sobre as barbáries perpetradas contra as mulheres durante a ditadura de Muamar Kadafi. Sequestros, estupros, drogas, tudo era permitido para este ditador que se proclamava o libertador das mulheres.
     No livro vemos a história de uma dessas garotas, que foi vista na escola pelo ditador quando tinha 15 anos. Levada para casa dele foi estuprada, mantida em cárcere para satisfazer os desejos do "Guia". Lá ela se vê junto a outras garotas que tiveram o mesmo fim, recrutadas em escolas, faculdades, filhas de generais, soldados... O apetite de Kadafi não tinha fim!
     Após sua morte essas mulheres que esperavam se ver livres, foram perseguidas pela própria Líbia, que as via como um símbolo de vergonha. Muitas foram mortas por seus parentes, outras passaram a se prostituir para manter sua vida, porém outras lutaram para que suas histórias fossem ouvidas, e parte desta história pode ser vista no livro.

 
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