29 de dezembro de 2010

O Indispensável Calvin

          Há poucos dias, zapeando pelo Google Livros encontrei por acaso uma pérola: The Indispensable Calvin and Hobbes (Calvin e Haroldo Indispensável). Não é novidade que Calvin e Haroldo é uma tira de simplicidade e leveza típicas de uma infância rica. Porém, o que me chamou a atenção (além obviamente das próprias tiras) foi o prefácio do livro: pequenos poemas, com a marca indelével de inteligência de Calvin. Infelizmente não encontrei o livro traduzido, por isso tentei traduzir o melhor que pude os poemas a seguir. Os poemas não tem nome, portanto são apresentados aqui na sequência que aparecem no livro.

Nota: todos os poemas e imagens deste artigo estão disponíveis na página do livro no Google Livros e são protegidos por direitos autorais.


I made a big decision a little while ago.
I don't remember what it was, which prob'ly goes to show
That many times a simple choice can prove to be essential
Even though it often might appear inconsequential

I must have been distracted when I left my home because
Left or right I'm sure I went. (I wonder which it was!)
Anyway, I never veered: I walked in that direction
Utterly absorbed, it seems, in quiet introspection.

For no reason I can think of, I've wandered far astray.
And that is how I got to where I find myself today.



Eu fiz uma grande decisão há um momento.
Não me lembro o que foi, o que talvez prove
Que amiúde uma simples escolha é essencial
Muito embora amiúde pareça inconsequente.

Devia estar distraído quando saí de casa pois
Esquerda ou direita, estou certo, segui. (E qual foi!)
Mesmo assim, nunca me desviei: caminhei em tal direção
Inteiramente absorto, talvez, em calma introspecção.

Sem motivo imaginável, o vasto espaço percorri
E por tal viagem hoje me encontro aqui.

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Explorers are we, intrepid and bold,
Out in the wild, amongst wonders untold.
Equipped with our wits, a map, and a snack,
We're searching for fun and we're on the right track!


Exploradores nós somos, intrépidos e audazes,
Pela selva, por entre surpresas ferozes.
Com um mapa, lanche e nosso juízo,
Diversão buscamos e estamos conseguindo!

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My mother has eyes on the back of her head!
I don't quite believe it, but that's what she said.
She explained that she'd been so uniquely endowed
To catch me when I did Things Not Allowed.
I think she must also have eyes on her rear.
I've noticed her hindsight is unusually clear.


Minha mãe tem olhos atrás da cabeça!
Não creio muito, mas ela quer que pareça.
Ela explicou que recebeu esse dom peculiar
Para quando faço Coisas Proibidas me pegar.
Acho que ela também tem olhos no traseiro.
Notei que mesmo atrás dela ela me vê inteiro.

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At night my mind does not much care
If what it thinks is here or there.
It tells me stories it invents
And makes up things that don't make sense.
I don't know why it does this stuff.
The real world seems quite weird enough.


À noite minha mente não muito se preocupa
Se o que pensa está longe ou em uma lupa.
Conta-me histórias que ela própria cria
E inventa coisas que eu mesmo não pensaria.
Eu não sei por que ela me faz isso
O mundo real já é bastante esquisito.

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What if my bones were in a museum,
Where aliens paid good money to see'em?
And suppose that they'd put me together all wrong,
Sticking bones on to bones where they didn't belong!

Imagine phalanges, pelvis, and spine
Welded to mandibles that once had been mine!
With each misassemblage, the error compounded,
The aliens would draw back in terror, astounded!

Their textbooks would show me in grim illustration,
The most hideous thing ever seen in creation!
The museum would commission a model in plaster
Of ME, to be called, "Evolution's Disaster"!

And paleontologists there would debate
Dozens of theories to help postulate
How man survived for those thousands of years
With teeth-covered arms growing out of his ears!

Oh, I hope that I'm never in such manner displayed,
No matter HOW much to see me the aliens paid.


E se meus ossos em um museu estivessem,
E para vê-los aliens pagassem e viessem?
E suponha que me montassem todo errado,
Grudando ossos distantes, lado a lado!

Imagine falanges, pelve e espinha
Coladas na mandíbula que um dia foi minha!
Com cada peça errada, criado o equívoco,
Os aliens ficariam apavorados, impossível!

Seus livros teriam-me em austera ilustração,
A coisa mais hedionda jamais vista na criação!
O museu encomendaria um modelo em gesso vivo
De MIM, a ser chamado, "O Desastre Evolutivo"!

E paleontologistas lá então debateriam
Dúzias de teorias, a pensar postulariam
Como o homem por séculos teria sobrevivido
Com braços dentuços saindo do seu ouvido!

Ah, espero que jamais isso tenha que acontecer,
Não importa QUANTO os aliens paguem para me ver.

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I did not want to go with them.
Alas, I had no choice.
This was made quite clear to me
In threat'ning tones of voice.

I protested mightily
And scrambled 'cross the floor.
But though I grabbled the furniture,
They dragged me out the door.

In the car, I screamed and moaned.
I cried my red eyes dry.
The window down, I yelled for help
To people we passed by.

Mom and Dad can make the rules
And certain things forbid,
But I can make them wish that they
Had never had a kid.


Eu não queria ir com eles.
Ai de mim, não tive opção.
Isso me foi bem explicado
Em vozes de terrível tom.

Eu protestei ferozmente
E me arrastei pela sala.
Mesmo tendo arranhado a mobília
Eles me puxaram para fora.

No carro, eu gritei e gemi.
Chorei com pupilas inchadas.
A janela aberta, implorei ajuda
Às pessoas andando na calçada.

Mamãe e Papai podem criar regras
E a certas coisas dizer proibido,
Mas eu posso fazê-los desejar
Que uma criança jamais tivessem tido.

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Now I'm in bed,
The sheets pulled to my head.
My tiger is here making Zs.
He's furry and hot.
He takes up a lot
Of the bed and he's hogging the breeze.


Agora na cama estou,
O lençol da minha cabeça pulou.
Meu tigre aqui fazendo Zês.
Ele é quente e peludo
Ele tomou quase tudo
Da cama e monopolizou a brisa.



Para os que não conhecem (ou querem ver mais) Calvin e Haroldo, há um artigo neste blog sobre Calvin e Haroldo.

28 de dezembro de 2010

Poesia Sufi


O sufismo é a corrente mística e contemplativa, que segundo algumas fontes têm suas origens na religião islâmica, porém está não é uma informação de todo verdadeira. Os praticantes são conhecidos como sufis ou sufistas, e procuram estabelecer uma relação íntima com Deus, utilizando de vários ritos e técnicas para tal.
Segundo palavras do site "Tarika":

"Há, no Ocidente, muita confusão, muitos mal entendidos acerca da Tradição Sufi de ensinamento e do desenvolvimento interior do indivíduo. A Tradição Sufi é, como tem sido sempre, uma ciência exata, não se encaixando dentro da série de “ismos” que marcam muitas filosofias populares."

O pensamento Sufi se fortaleceu no Médio Oriente no século VII e encontra-se hoje por todo o mundo, sofrendo perseguição em alguns lugares como Ásia, Oriente Médio e África.
Os místicos Sufis procuram ensinar, escrever e criar versos para devolver ao homem o conhecimento esotérico perdido pelas religiões estabelecidas. Em sua crença, Deus é amoroso, e a comunhão profunda com ele pode ser obtida por qualquer pessoa independente de suas crenças.
Alguns nomes de Mestres da Tradição Sufi: al-Ghazzali, Hafiz, JAmi, Saadi, Salman i-Farsi, Omar Khayyam, Rumi, Al-Beirun.

RUMI

Jalal al - Din Al Rumi nasceu em 1207, em Balkh, no Khorasan, atual Afeganistão. Em, 1244 conhece o velho místico Shams, e com ele trava uma amizade profunda, interrompida apenas pela morte de Shams, ao qual Rumi dedicou muitos poemas.
Rumi faleceu em 1273, e fazia parte da tradição dos Dervixes Rodopiantes, que compreende os místicos Sufis que utilizam a dança e o giro como um meio para atingir êxtase espiritual.
Rumi ficou conhecido como um grande poeta, através de seus livros: Masnavi, Fihi-Ma-Fihi e Divan.


POEMAS DE RUMI

O Amor partiu meu leve coração
e o sol vem clarear minhas ruínas.

Ouvi belas palavras do Sultão.
Caí por terra triste, acabrunhado.

Acercou-se de mim, vi o seu rosto.
"Do rosto eu não sabia mais do que o véu"

Se a luz do véu abrasa esse universo,
o que dizer do fogo de teu rosto?

O Amor veio e partiu. Eu o segui.
Voltou-se, como águia, e devorou-me.

Perdi-me no tempo e no espaço.
Perdi-me nos mares do verbo.

O gosto deste vinho,
conhece quem sofreu.

Os profetas bebem tormentos.

E as águas não temem o fogo.

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Quero fugir a cem léguas da razão,
Quero da presença do bem e do mal me liberar.
Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu ser.
Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis!

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Eu soube enfim que o amor está ligado a mim.
E eu agarro esta cabeleira de mil tranças.
Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça,
Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim.

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Ele chegou... Chegou aquele que nunca partiu;
Esta água nunca faltou a este riacho
Ele é a substância do almíscar e nós o seu perfume,
Alguma vez se viu o almíscar separado de seu cheiro?

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Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se bebo água, quando estou sedento
Vejo na água o reflexo do teu rosto.

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Sou medido, ao medir teu amor.
Sou levado, ao levar teu amor.
Não posso comer de dia nem dormir de noite.
Para ser teu amigo
Tornei-me meu próprio inimigo.

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HAFIZ

al-Din Muhammad Hafiz nasceu em Chiraz, em 1325, foi um poeta lírico persa, professor exegese do Alcorão e adepto do Sufismo. Exímio no gazel (uma forma de ode), foi durante muito tempo poeta da corte, mas caiu em desgraça em 1368. Sua obra versa sobre o amor à natureza, aos prazeres do vinho e do amor, as imagens incomuns e as exatas descrições da vida cotidiana da época.
Sua obra intitulada Diwan, com mais de 500 poemas líricos (gazéis). Morreu em Chiraz no ano de 1390.

POEMAS DE HAFIZ

Um dia, o sol admitiu:
Sou apenas uma sombra,
quisera poder mostrar-te a infinita incandescência
que lançou minha imagem brilhante.
Quisera poder mostrar-te,quando você se sentir só ou na escuridão,
a surpreendente luz do seu próprio ser.

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O que poderia Hafiz proferir sobre aquele dia
Quando o sol concebeu um homem,
Deu à luz a si próprio como a realidade e a verdade?
Que justiça poderia todo discurso na criação jamais dizer
A respeito daquela esplendorosa manhã
Quando o eterno Um maravilhoso Deixou seu rosto
Reaparecer na forma através da graça?
Há algo que eu vi no interior de Maomé,
Essa é a raiz luminosa de toda a existência,
Independente da noviça dança do tempo
Através de uma única corda do alaúde do infinito.
O que pode até mesmo o amor de Hafiz expressar
Pelo antigo doce homem
Que sempre produz compaixão e ludicidade divina?
O que pode o vórtice do meu humor, perspicácia e gratidão sublimes,
jamais dizer Sobre o pai dos perfeitos,
Quando eles próprios, podem transformá-lo em Deus?
Eu trago presentes hoje dos reis dos peixes, animais, aves, e anjos.
Eu trago presentes hoje dos rios, mares, campos, estrelas,
E de cada alma - que para sempre será!
Amado deixe-nos conhecer O que a luz viu e disse
Quando te descobriu pela primeira vez, e em seguida, saltou e desfaleceu
Em tal risada maravilhosa Que a luz tornou-se Este solo de terra E este céu.
Ó, Eterno, neste dia sagrado sempre presente esqueça sua divina reserva
- Escancare as portas da Taberna.
Dê aos seus sedentos velhacos leais
Uma bebida de sua sagrada vintage,
Livre-nos de nós mesmo, um pouco
Com abençoado conhecimento consumidor do seu Ser Omnipresente.
Nós somos suas noivas ansiosas, por que esconder isso?
Somos mariposas dervixes cantando.
Nossas almas sabem Daquele fogo imaculado que você mantém
Que pertence a nós!
Mesmo a morte não terá poder agora
Para calar Seu nome de bater loucamente em nossos corações.
Viajante, agora não é hora se sentar-se quieto
Pois nada, além de um grande clamor de alegria
E música pode fazer qualquer sentido
Hoje!

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Uma destas noites, um sábio me falou: "É preciso conheceres o segredo daquele que nos vende o vinho."
E ainda: "Não leves nada a sério. O mundo carrega de enormes fardos aqueles que dobram a cerviz."
Depois, estendeu-me uma taça onde o esplendor do céu se refletia tão vivamente que Zuhra se pôs a dançar:
"Filho, segue o meu conselho; não te inquietes com as noites deste mundo. Guarda as minhas palavras: elas são mais raras do que as pérolas"
"Aceita a vida como aceitas essa taça, de sorriso nos lábios, ainda que o coração esteja a sangrar. Não gemas como um alaúde; esconde as tuas chagas"
"Até o dia em que passares por trás do véu, nada compreenderás. Não podem ouvidos humanos ouvir a palavra do anjo"
"Na casa do amor, não te envaideças das tuas perguntas, nem da resposta."
Vinho, ó Saki, mais vinho: as loucuras de Hafiz foram compreendidas pelo Senhor da alegria, Aquele que perdoa, Aquele que esquece...


Fonte: Tarika

Sertão do Peri

Poesia Sufi

Black Swan


Alguns filmes possuem uma história simples, mas a forma como ela é construída, interpretada, dá vida e uma nova forma de encara-lá, é o que acontece com o filme Black Swan, ou na tradução para o português Cisne Negro, filme de Darren Aronofsky. Olhar a sinopse e acreditar que a história gira em torno da disputa entre as bailarinas é ter uma visão muito simplista do filme, é preciso observar de perto e se surpreender!
Nina Sayers é uma bailarina dedicada, disciplinada, com uma técnica perfeita, sua vida se define pela dança. Vive com sua mãe uma ex-bailarina que a sufoca com seu controle e obsessão.
Quando Nina recebe a oportunidade de substituir a bailarina principal, Beth MacIntyre na abertura da nova temporada de "O Lago dos Cisnes", se vê em uma disputa feroz com outra dançarina: Lily.
Embora, Nina, seja uma excelente bailarina, ela necessita interpretar dois papéis distintos: o Cisne Branco, personificação da inocência e graça, e o Cisne Negro, que representa a malícia e a sensualidade. Dada sua personalidade Nina só consegue interpretar o Cisne Branco, enquanto Lily é a personificação do Negro.
Como no ballet, Nina se vê transformada no palco na disputa entre os dois cisnes, entrando em contato com uma faceta de sua personalidade que ela desconhece.
Black Swan é um filme impressionante, e Natalie Portman por meio de sua atuação nos retrata perfeitamente toda a angústia de Nina. O clima de suspense e delírio do filme nos prende, e nos questiona a todo momento sobre o que é uma realidade e o que não passa de imaginação.
Cotado para ser um dos 10 filmes indicados ao Oscar 2011 de melhor filme, Black Swan (Cisne Negro) é um filme impressionante do começo ao fim.





- FILME -

27 de dezembro de 2010

Carmilla


Carmilla foi composta por Joseph Sheridan Le Fanu, em 1872, com base em seus estudos sobre o vampirismo, compilando pela primeira vez todos os elementos conhecidos sobre o mito, tais como a estaca no coração, a metamorfose em animais, a decapitação, a sensualidade e o erotismo.
Embora seja um clássico da literatura gótica, não apresenta grandes evoluções em sua história, sendo fundamentalmente maniqueista, onde apresenta a jovem Laura, personagem inocente, e apática do mundo ao seu redor até que Carmilla se hospeda em sua casa, por convite do pai de Laura, que a recebe por ter sofrido um acidente próximo a residência, que a impede de continuar sua viagem. Ao contrário de Laura, Carmilla é uma jovem cheia de alegria e vida, e da relação de ambas nasce uma amizade intensa e apaixonada.
Contudo, os estranhos hábitos de Carmilla despertam interesse das pessoas, ao mesmo tempo em que acontecimentos escusos ocorrem nas redondezas.
Laura se vê, então, presa e fascinada pelo mistério que ronda sua nova amiga, porém sente que deve resistir aos seus encantos.
É neste ponto que a história de Le Fanu inova, pois que para a sociedade de 1872, a relação de paixão e desejo de Carmilla por Laura, manifestada por meio de palavras, toques apaixonados, beijos e cenas de pesadelos, onde uma personagem domina a outra, ainda que de forma não explícita, é chocante.
A novela em muitos pontos é confusa, deixando várias lacunas, que empobrecem, mas não afetam realmente a história.
Outro ponto interessante, é que Carmilla, ao meu ver, coloca a personagem vampira (e maligna) mais cativante do que a personagem Laura, personificação do bem.
Um livro curto, e fácil de ser lido, para quem aprecia literatura do gênero, vale a pena conferir.

- LIVRO -

14 de dezembro de 2010

Trilha Sonora "Na Natureza Selvagem"


           Certamente, a trilha sonora é um elemento chave de um filme, ela, assim como os cenários, a interpretação dos atores, e todo o mais contribui de forma relevante para o sucesso de "criar o clima" da cena. Mas, existem aquelas trilhas sonoras que se sobressaem, tornam-se algo a parte do filme.
          Foi o que aconteceu com a trilha sonora do filme "Na Natureza Selvagem", dirigida por Eddie Vedder sob encomenda de seu amigo Sean Penn (diretor do filme). 
           Vedder fez a trilha após voltar da turnê com Pearl Jam, executando-a em 3 semanas, entre composição e gravação. A trilha sonora é poética, despojada e extremamente sensível. A faixa Guaranteed, ganhou o Globo de Ouro e foi indicada ao Grammy. Uma trilha sonora linda e viciante.

Faixas:
1 - Hard Sun
Escrita por Gordon Peterson.
Interpretada por Eddie Vedder.

2 - Society
Escrita por Jerry Hannan.
Interpretada por Eddie Vedder.

3 - Setting Forth
Por Eddie Vedder.

4 - No Ceiling
Por Eddie Vedder.

5 - Far Behind
Por Eddie Vedder.

6 - Rise
Por Eddie Vedder.

7 - Long Nights
Por Eddie Vedder.

8 - Tuolumne
Por Eddie Vedder.

9 - The Wolf
Por by Eddie Vedder.

10 - End of the Road
Por Eddie Vedder.

11 - Guaranteed
Por Eddie Vedder.

12 - Going up the Country
Por Canned Heat.

13 - King of the Road
Escrita e Interpretada por Roger Miller.

14 - Doing the Wrong Thing
Por Kaki King.

13 de dezembro de 2010

Vlad: A Última Confissão


          Vlad III foi um conhecido príncipe da Transilvânia durante o séc. XVI. Passou para a história por sua crueldade extrema, que lhe rendeu o título de Vlad Tepes (o Empalador) ou Drácula, cujo significado seria "filho do dragão", mas as pessoas traduziram por "filho do diabo", pois acreditavam que ele tinha um acordo com o diabo, dada sua maldade. 
            Bram Stoker se apropriou deste personagem histórico para dar vida ao seu, criando um clássico do terror "Drácula", a obra que criou o mito literário do vampiro de hoje. 
Drácula se eternizou...como um vampiro, como um empalador, e esta imagem tem sido usada exaustivamente por várias mídias.
           É extremamente raro, quem explore o lado histórico do personagem, e C. C. Humphreys ao escrever seu romance "Vlad: A Última Confissão" o faz, reconstituindo a vida de Vlad desde sua juventude (que segundo a história foi passada como refém dos turcos), explorando o ambiente em que ele vive, e como se desenvolveu suas crenças e sua personalidade, o autor tenta elucidar um pouco da mente deste controverso personagem. Contudo, o livro é neutro, ele apresenta os fatos (tais, como poderiam ter sido) e deixa em nossa mãos a tarefa de julgar Vlad III.
        O romance é organizado por meio dos testemunhos das 3 últimas pessoas vivas que desfrutaram da intimidade de Vlad: Ion Tremblac, cavaleiro valáquio, que foi refém dos turcos junto com Vlad, se tornando seu melhor amigo; Llona, amante de Vlad; e Vasilie, ex-soldado e monge que se tornou seu confessor. E é através da união dos olhares destas 3 pessoas que a história de Vlad cria vida. 
          Um livro que vale a pena ser lido, não apenas por sua trama, mas pelo conteúdo pesquisado pelo autor.

             "Vlad franziu a testa. 
                     - Por que você se surpreenderia com eles? Todos os reféns são filhos de rebeldes. É por isso que somos reféns, para que nossos pais, que governam suas terras pela graça da Turquia, continuem a reconhecer quem é o verdadeiro senhor. Dracul, meu pai, deixou a mim e a meu irmão Radu sob seus... cuidados cinco anos atrás. Não apenas para que recebêssemos a melhor educação que é possível ter, mas para que, se ele se rebelar outra vez, você possa nos matar.
             Ion estendeu a mão, pegou seu cotovelo.
                        - Pare...
             Vlad se afastou dele.
                      - Por quê, Ion? O agá Hamza conhece nossa história. Ele já viu reféns chegarem e partirem, viverem e morrerem. Ele ajuda a nos dar do melhor: comida, línguas, filosofia, as artes da guerra e da poesia. - Ele apontou para sua tábua. - Eles nos mostram sua fé, uma fé de tolerância e caridade e, no entanto, não forçam nossa conversão, pois isso é contra a palavra do Sagrado Corão. Se tudo caminhar bem, eles nos mandam de volta para nossas terras para tratar em seu nome de todos os problemas que existem lá, para pagar-lhes tributo em ouro e jovens, e agradecê-los pelo privilégio. Se as coisas não acabarem bem... - Ele sorriu. - Então espalham nossos cérebros bem-educados pelo chão. - Ele voltou a olhar para Hamza. - Falo alguma coisa que não seja verdade, efendi? Se sim, então me bata com força por mentir, por favor.
              Hamza o olhou por um longo momento, sua expressão nula. Por fim, perguntou:
                      - Quantos anos você tem?
                      - Farei 17 em março.
                      - É demasiado jovem para ter pensamentos tão cínicos.
                      - Não, agá Hamza - retrucou Vlad, suavemente -, sou apenas demasiado jovem para fazer algo sobre isso."

12 de dezembro de 2010

The Masque of The Red Death


       The Masque of The Red Death é uma adaptação cinematográfica de 1964, do conto de mesmo nome, escrito por Edgar Allan Poe. 
       Dirigido por Roger Corman, o filme conta com Vicent Price no papel de príncipe Próspero. Filmado na Inglaterra, a modesta produção é uma das mais suntuosas dos trabalhos de Corman.
        O colorido utilizado nas roupas e nos cenários reforçam o clima de fantasia e irrealidade no qual a história se desenrola.
        Vicent Price faz uma interpretação impecável, e destila toda essência maligna de Próspero. Um filme que vale a pena ser visto por sua simplicidade, por sua ótima adaptação do conto de Poe, e pelas críticas claras a humanidade.



7 de dezembro de 2010

Minúsculos


       Pense em uma série que mistura documentários da BBC ou National Geographic com elementos de Toy Story...Pensou? Por mais absurda que pareça a mistura ela dá origem a "Minúsculos"!
        Minúsculos é uma animação sem diálogos que usa da sensibilidade das situações para criar uma série leve, bem humorada, e por que não dizer, poética!
        Personagens em 3D e cenários reais, terminam por temperar e compor o ambiente. Vale muito a pena ver!




















28 de novembro de 2010

Moça com Brinco de Pérola


    Johannes Vermeer foi um pintor holandês que viveu entre 1632-1675, conhecido como Vermeer de Delft ou Johannes van der Meer.
      Vermeer é um importante representante da pintura holandesa do séc. XVII, estando apenas atrás de Rembrandt. Ficou conhecido por suas composições inteligentes, e pelo brilhante uso da luz.
      Pintou diversos quadros, entre eles Moça com Brinco de Pérola, que para alguns é classificado como a "Mona Lisa Holandesa". Da mesma forma que a pintura italiana, muito se especula sobre a modelo que Vermeer utilizou, contudo não existem registros sobre a origem da mesma.
     Em 1999, a escritora Tracy Chevalier publicou um romance, no qual utiliza do mistério que envolve a origem do quadro e de sua modelo, que encanta pela beleza expressiva e olhar intrigante. 
     O romance é muito bem escrito, onde chama a atenção o romantismo e a praticidade na relação de Vermeer e Griet, jovem camponesa que vai trabalhar na casa do pintor, devido a dificuldades financeiras de sua família. Dentre suas funções está a de limpar e arrumar o estúdio, onde Vermeer passa a maior parte de seu tempo, trabalhando e refugiando-se de sua família caótica.       
       Aos poucos Vermeer e Griet se aproximam, ela possui um olhar crítico natural, entendendo o pintor, que passa a ensiná-la a preparar e misturar tintas. Essa relação causa ciúme do resto da família e a inveja dos outros serviçais. 
      O romance consegue criar uma fantasia tão forte, que em determinados pontos te faz duvidar se não foi real, deixando de ser uma mera possibilidade.




          Baseado no livro de Chevalier, Olívia Hetreed criou o roteiro de Moça com Brinco de Pérola, com direção de Peter Webber.
         Scarlett Johansson interpreta a jovem Griet e Colin Firth que vive o papel de Vermeer, ambos atuando de forma simplesmente hipnotizante. A interpretação expressiva e silenciosa dos dois atores, nos apresenta a sensualidade e a tensão sexual que existia entre o pintor e a serviçal, no entanto com uma sutileza e de forma tão delicada, quanto o processo de pintura.
         A semelhança de Scarlett Johansson e a modelo que posou para o pintor é tão grande, que ainda que ela não tenha sido a primeira opção, acabou por ganhar o papel.

         
            O filme tem 3 indicações ao Oscar (Fotografia, Direção de Arte e Figurino) e 2 indicações ao Globo de Ouro (Atriz - Drama e Trilha Sonora), um filme e um livro que valem muito a pena conferir!!

13 de novembro de 2010

Na Natureza Selvagem

                O acaso pode nos conceder grandes surpresas, e ele me deu a chance de "zapear" nos canais enfadonhos um filme maravilhoso... 


              O filme é baseado no livro de mesmo nome, escrito por Jon Krakauer em 1997, que conta a história de vida de Christopher Johnson McCandless. Filho de um engenheiro da NASA, nascido em 1968 no estado da Virginia, EUA. Christopher se destacava na escola por sua habilidade atlética e seu isolamento que culminou em um crescente descontentamento com a situação social nos EUA.
            Em 1990, inspirado pelos trabalhos de escritores como Jack London, Leon Tolstoi e Henry David Thoreau, largou tudo após concluir a universidade, doou suas economias para a caridade e se tornou um andarilho, sob a alcunha de Alexander Supertramp ("Super Vagabundo"). 
             Escrito e dirigido por Sean Penn o filme também conta com a impressionante atuação de Emile Hirsch, que atuou em filmes como "Show de Vizinha".
           O filme impressiona pela maturidade clara do diretor, e pela escolha dos atores que interpretaram magistralmente seus papéis, além de uma trilha sonora feita sob medida por Eddie Vedder.
             Uma belíssima história de vida, que nos traz uma profunda reflexão sobre os valores da sociedade, e nossos papéis dentro dela. Ouso dizer que o filme na Natureza Selvagem, não é fuga (e vivência) de seu protagonista para a natureza, mas sua análise profunda da natureza, geralmente, selvagem de todo ser humano...





9 de novembro de 2010

A vitória nossa de cada dia

           "Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas, coisas e coisas por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: 'tens medo'. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saberem como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
          Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer 'pelo menos não fui tolo' e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos se estivéssemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."

Clarice Lispector
Do livro "Uma Aprendizagem ou Pequeno Livro dos Prazeres".


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Em homenagem a Francisco Siriaco, uma flor de lótus em um pântano.

8 de novembro de 2010

L'ham de Foc


            L'ham de foc é um grupo formado por músicos valencianos, formada em 1998. A temática recorrente nas músicas é a medieval, com influências mediterrâneas e do Oriente Médio. No entanto, o toque único da banda é cantar suas músicas em catalão, acompanhada com a bela voz de Mara Aranda.
         Outro toque único da banda é utilização de vários instrumentos: gaita galega, búlgara, dolçaina, didgeridoo, clarinete, aerofones aparentados com a bombarda bretã e o duduk armênio. Em instrumentos de percussão, podemos apreciar: darbuca, bendir, pandeireta, menuda, tamborina de cordas e tablas.
            L'Ham de Foc é um grupo completo, liderados por Mara Aranda e Efrén López, um música que te leva a uma viagem fantástica e atemporal, por um universo oriental único.
          É inegável a forma como podemos experimentar cada palavra, cantada docemente por Mara Aranda. 
             Um som que vale a pena ouvir!




               O grupo lançou 3 álbuns:
                          - 2000: U;
                          - 2002: Cançó de Dona i Home;
                          - 2006: Cor de Porc.

               Outros álbuns são projetos paralelos do grupo: o primeiro é uma parceria com o grupo alemão Estampie, Al Andaluz Project - Deus et Diabolous, e conta com as vozes de Mara Aranda (L'ham de foc), Sigrid Hausen (Estampie) e Iman al Kandoussi. O segundo chama-se Aman Aman.



Al Andaluz Project




Aman Aman



                Ambos os álbuns possuem músicas do gênero sefardita, música da tradição judaica que é interpretada numa língua chamada ladino (originalmente, uma mistura de castelhano, português e hebraico).
               O único defeito da banda é existir apenas em projetos paralelos realizados pelos líderes da antiga banda, mas não deixa de valer a pena ouvir seu legado!

7 de novembro de 2010

Alice: Madness Returns

E se você construísse um refúgio?
Cuidadosamente montasse as peças
Do intrincado quebra-cabeça
E fizesse um mundo de maravilhas?

E se ao voltar ao seu refúgio
Buscando paz e segurança
Cada pequeníssimo detalhe
Estivesse torto e distorcido?

E se o mundo que você construiu
Se tornasse o seu pior inimigo?


          No ano de 2000, o designer de jogos American McGee, juntamente com o estúdio Rogue Entertainment, desenvolveu um jogo, publicado e distribuído pela EA Games, intitulado American McGee's Alice. Com gráficos impressionantes para a época, o jogo fez muito sucesso com seus cenários macabros e personagens horripilantes, baseados nas obras de Lewis Carroll (autor de Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho).
          Agora, onze anos depois (o jogo será lançado em 2011), American McGee e EA se reúnem novamente, para dar sequência à história, que se passa também onze anos depois dos acontecimentos do primeiro jogo.
Screenshot de Alice: Madness Returns
           O primeiro jogo se passa alguns anos depois da história dos livros. A casa de Alice é destruída em um incêndio acidental, do qual Alice é a única sobrevivente. Após sofrer de alucinações (e tentar suicídio), ela é internada em um hospital psiquiátrico, onde encontra, em uma noite nada normal, o mesmo coelho branco a chamando de volta ao seu País de Maravilhas. Mas o seu antigo refúgio já não é o mesmo. A falta de Alice permitiu que a Rainha de Copas tomasse o poder absoluto no País das Maravilhas, transformando o antigo mundo de sonhos e loucuras em um cenário decadente de escuridão e violência. A missão de Alice é trazer a antiga paz de volta ao mundo que a sua própria imaginação criou.

Concept art de Alice: Madness Returns
          Alice: Madness Returns traz um objetivo um pouco diferente. Alice conseguiu sua liberação do hospital psiquiátrico, depois de tanto tempo internada, e passou a ser tratada por um psiquiatra em Londres. Porém, o que era para ser uma libertação se torna um regresso ao pesadelo. Confrontando seus antigos demônios, Alice se vê novamente no País das Maravilhas (cujo nome já não faz mais nenhum sentido), que como antes se encontra distorcido e decadente. Porém, nesta sequência da história Alice percebe finalmente que não é a Rainha de Copas, ou qualquer outro personagem de sua mente, a "culpada" por essa decadência, mas sim a sua própria mente. Alice deve então combater, mais do que nunca, a sua própria decadência, a sua própria distorção, deve interromper a sua descida ao inferno.

Screenshot de Alice: Madness Returns
          Com gráficos bonitos, porém nada impressionantes para a realidade atual dos jogos eletrônicos (ainda mais falando de EA Games), Alice: Madness Returns reinventa, como seu predecessor, uma das histórias mais férteis e propensas a interpretações da literatura universal. Sua história é semelhante à de outras adaptações, como Alice de Tim Burton, com o mesmo maniqueísmo desagradável, totalmente ausente nos livros de Carroll. Resta dizer que o primeiro jogo, American McGee's Alice, não tinha uma história muito bem elaborada, o que tornava a jogabilidade enjoativa após pouco tempo. Fica a espera de que esta sequência traga algo realmente novo e criativo.

          O lançamento é previsto, como já dito, para 2011, para as plataformas XBOX 360, Playstation 3 e PCs.

9 de outubro de 2010

Contradições ao Vento

          É quase estranho de se pensar a quantidade imensa de pessoas que publicam poesia pela Internet. Na minha humilde opinião, é raro encontrar, porém, textos de qualidade. Muitos são desabafos colocados sob a forma de verso (e alguns sequer chegam a isso). Às vezes, porém, encontramos diamantes em grãos de areia...
          O poema a seguir é de Marcus Vinícius, autor jovem nos anos e experiente em cultura. Em seu blog, Falses Pretenses (o qual também pertence a Weslley), publica seus textos, além de artigos sobre literatura, música, cinema etc. Vale a pena conferir.
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Penso que sou o eleito
O que mesmo tão jovem
Tudo sabe sobre o mundo e a vida
E que por desfecho deste paradoxo
Nada sabe sobre a vida de si mesmo

Eu sei, quanta pretensão a minha
Mas deixe-me ao meu ego ferido ofertá-la
Que por muitas donzelas passei despercebido
E por rapazes mil vezes mais fui tentado

Veja só, quanta vergonha a minha
Por mais que eu fale de amor
(e falo)
Mais o meu lábio continua seco e sem prestígio

Esta trova, meu senhor, de escárnio ou maldizer
(como queiras)
É senão a mim mesmo
A este chacal, praga chorosa e grosseira
Que tanto do gosto das gazelas fala
Que o mesmo tanto sequer chegou a avistar

É certo que assim foram-se muitos românticos
Byron, Florbela, Cruz e Souza
Álvares de Azevedo
Tanto amor a ser declamado e aplaudido
- Nenhum amor vivo - só morto - a ser vivido
Maior inflama o amor
(dizem)
Quando envolto em névoa e bruma

E em tudo em mim assim se faz:
- Claro!
Mas claro que é escuso

O que me resta então?
Cultivarei o meu remorso pelo irrealizado
Anseiarei o teu retorno impossível
E assim estarei iludido
Porém feliz com minhas tristezas



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Escrito por Marcus Vinícius, em 31/07/10, às 2:44h AM.

4 de outubro de 2010

O Lorde de Shalott

 I

Sob límpido céu, tranquilo
Um jovem admira o amanhecer
Vê as aves, aprecia o orvalho
Enquanto se deleita em tecer
De puro ouro, belos versos
E assiste a um diverso mundo
Pelos reflexos de seu espelho
Vê as cores, inveja as flores
Da distante ilha de Shalott

Decide o jovem enfim partir
E alcançar as pétalas, perfume
Ouvir a bruma, sentir o vento
E de tudo extrair, tal ourives
Perfeitos e intensos versos
Levanta-se, e canta, e anda
Toca o espelho e seus reflexos
Névoa, vida – ardente vida!
Rumo à tão sonhada Shalott

Em novo mundo, novos ares
Todos veem o peregrino
Sem guia, não entende ele
Os minutos que teimam, ferozes
A bater e moldar versos
Um pequeno relógio, compassivo
Lhe aperta as mãos e o leva
Adiante na alegre jornada
À encantada Shalott

Apresentado a seus pares
Anda o jovem temeroso
Um pálido curinga doente
Um notável mágico sonhador
A lhe ditar cronometrados versos
‘Talvez melhor meu Espelho
E os reflexos turvos da minha,
Da sempre distante Shalott’

No brilho forte do meio-dia
Ao longe cintilou a ilha
Pétalas ao sol, mil cores
O jovem, com seus guias,
Jubilou intrincados versos
De cima a baixo, milhares,
Estilhaços e pequenos cacos
Do espelho já abandonado
Trocado pela esperada Shalott

Pesado, no jardim o peregrino
Sozinho, sem mais guias
Ouviu,  ‘meu Relógio parou!’
Sem lágrimas: mais à frente
Puríssimos, requintados versos!
E pelo caminho, pela relva,
O jovem se proclamou senhor
Honrou os céus, curvou-se à terra
À sua ilha de Shalott!



II

Livre! Em meu Jardim
Agora posso dançar à tempestade
Entre lobos, pássaros e árvores
Posso eu alimentar minha orquídea!

Mas espera! Não a és?
Não tens suas cores, seu perfume
Mas és orquídea! Como podem
Te encantar outros perfumes?

Ah eras perfeita, perfeita!
Cálidos olhos, gélidos dedos...
Minha Cristine, já não és
A máscara que eu uso
Agora eu me farei ouvir!

Ora, é um Jardim!
Há mais e mais flores!
Lá vem uma pequena tulipa
Vê! Feito rosa se veste
Lançando a todos suas raízes!

Vem, me abraça, falsa rosa!
Que tua miséria precisa, por ora,
Da minha paciente companhia
Destila teus problemas, ouvirei.

Mas sabes, minha companhia
Precisa de muito, muito mais
Do que tua fraqueza é capaz
Mais do que tu, sou legítimo Bovary!

Então me abraça, toma meu corpo,
Devora-me feito caça!
Mas suplico, não me toques
Com o sincero olhar do interesse

E quantas mais, ainda mais?
Não foi primeira, nem última
A noite sem resposta
Onde estará o tal reflexo?

E agora essa: uma rosa negra!
Vestes o luto, a noite, o infinito
Mas te prendes a ínfimos dedos
Que mal suportam teu peso!

E então, até um cravo!
Ah, que nem tem perfume...
Basta! Sem mais pétalas,
Pois eu estou meio cansado de flores

Sem liberdade, mas sem companhia
E no centro de doentio Jardim
Para trás, apenas sombra
Estilhaços de um Espelho
Cinzas de um Relógio
Lágrima, sonho, demência,
Sou eu aquele que anda?



III

Ao cair da tarde, vermelha,
Tocou o sol altivas árvores
O vento balançou os lírios
Que admiravam, pasmados,
O nascimento de estranhos versos
Pois do jardim enfim saía,
Mãos vazias, o peregrino
Quase esquecido, partia
De sua amada Shalott

Os céus se abriram, ferozes,
E furiosa tempestade despertou
Como há muito não se via
E há muito esperada
Para sorver audazes versos
Tal colar, um rio se formou
Em volta da ilha florida
E o jovem apanhou seu barco
Partindo, só, de sua Shalott

Para trás olhou, sublime
A tempestade obliterava
Feito fogo todas as cinzas
E cacos, mesmo pétalas
Extirpava tais falsos versos
Às nuvens orou, sem fé
Com o bem-estar da leveza
Uma canção jamais ouvida
Mesmo nas noites de Shalott

Sem caminhos ou horizontes
Apenas a forte correnteza,
A incessante tormenta; em paz
O jovem dormiu, tranquilo
Do vento ouvindo versos
Tombaram árvores,
Perderam-se os lobos,
Fugiram os pássaros.
Em ruínas a lendária Shalott

E no barco navegava
O peregrino adormecido
Pois a noite lenta andava
Enquanto sem sonhos descansava
Alguém farto d’outros versos
Uma trégua, e os céus deixaram
O luar tocar as faces
Silente príncipe, curado
Da hipnose por Shalott

Ao longe, o primeiro raiar
De um amanhecer renovado
Despertou o jovem em seu barco
Saboreou seu renascimento
Em sinceros, profundos versos
E se despediu, saudoso
De sua antiga jornada
Senhor de seu novo mundo
Ele, o Lorde de Shalott



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Escrito no Jardim em 03/10/2010, às 6:00 a.m.

Ouvindo:
The Lady of Shalott - Loreena McKennitt
Misery Loves Company - Emilie Autumn


Imagem: The Lady of Shalott  on boat,
de John William Waterhouse, 1888

28 de setembro de 2010

Os Homens que não Amavam Mulheres

      Determinadas coisas atraem pelas capas que possuem, quando vi isso...


            ... Não pensei duas vezes para assistir, mas de forma muito receosa, afinal de contas, a capa não é nada, aliás que quase sempre é um equilíbrio para a falta de conteúdo. Mas surpresa de novo! Apreciei muito este filme!
            Gostei das jogadas de personagens, não propriamente por sua história que não apresenta grandes novidades, mas sim, pela mudança de foco que ocorre ao longo da trama. Ao final, você pensa sobre o que realmente estava falando o filme, se a questão que foi apresentada no começo ou se isto não era apenas um pano de fundo para um algo mais?!
           Baseado na trilogia Millennium de Stieg Larsson, o filme foi baseado no primeiro livro, sendo dirigido pelo dinamarquês Niels Arden Oplev.
          O filme é ótimo, valendo muito a pena de ser visto, ainda que longo ele não se torna enjoativo e tampouco cansativo de ser visto, mantendo seu ritmo até o fim.
             Aconselho que assistam o filme em sueco, antes que Hollywood o refilme!




Sites Interessantes:



27 de setembro de 2010

Prêmio Abril de Personagens



A Editora Abril está lançando o "Prêmio Abril de Personagens" com intuito de estimular a criação de narrativas para público infanto-juvenil, ou seja, entre 7 e 12 anos, de ambos os sexos.

Os trabalhos serão selecionados pela Editora Abril, pela Associação Brasileira de Produtores Independentes d Televisão (ABPI-TV) e também serão colocados a disposição do voto popular.
O ganhador irá garantir um contrato com a Editora Abril e terá sua obra publicada.

O prazo para as inscrições vai de 27 de setembro a 24 de outubro de 2010.

Para quem se interessar, mais informações no site.

24 de setembro de 2010

Coração de Tinta (Inkheart)


             Nos livros de aventura, observamos sempre encantados os heróis com capas esvoaçantes, espadas reluzentes e coragem férrea. Suas aventuras recheadas de seres fantásticos, seres bons, seres ruins, seres de extrema beleza ou de uma feiura encantadora.
        Em todos estes livros de fantasia, os heróis possuem grandes poderes, são pessoas predestinadas, escolhidas por suas qualidades únicas...Mas este livro não fala de nada disso, este livro fala sobre um outro personagem das histórias, um personagem esquecido, um personagem que nunca aparece... O LEITOR!

             Coração de Tinta conta a história de Montimer e sua filha Meggie. Ele é um encadernador e restaurador de livros, e passa sua paixão para a filha, e assim ambos vivem em uma relação familiar única, onde a leitura de livros é a base fundamental.
            Embora tenha essa paixão Montimer, ou simplesmente Mo como Meggie o chama, nunca leu para sua filha em voz alta, Meggie sempre se perguntou o porque disso. Vivendo de forma nômade e sem vínculos com ninguém, Mo e Meggie viajam para onde o trabalho do pai chamar, e embora ela não entenda o motivo, para ela basta, vivendo feliz desta maneira!
            Essa rotina é quebrada em uma noite chuvosa, em que um visitante de rosto estranho e misterioso aparece em sua porta, a partir daí Meggie se vê entrando em um universo que antes ficava restrito apenas as páginas dos livros...

          Para quem aprecia boas histórias de fantasia, este é um livro altamente recomendado, juntamente com o filme. "Coração de Tinta" é uma série muito interessante de ser lida, pois aborda de forma criativa um universo totalmente diferente. O filme não fica a dever o livro, sendo uma boa adaptação, mas recomendo dar uma olhada em ambos, pois são experiências diversas e com qualidade!







Obs.: Cornelia Funke produziu uma série, possuindo três livros lançados, contudo só obtive contato com o primeiro.

22 de setembro de 2010

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus


        O Diabo está nas escolhas... Certa vez li isso em algum lugar, acho que nenhum filme conseguiu ilustrar tão bem está verdade.

          O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus é um filme muito interessante de ser visto. O Dr. Parnassus é como um dono de mamolengo ou circo que nos apresenta um universo único, o de nossas mentes guiadas pela sua.
           Jogador incontrolável há milhares de anos ele fez uma aposta com o diabo, o Sr. Nick, graças à qual ele obteve a imortalidade. Séculos depois, ao conhecer o seu verdadeiro amor, o Dr. Parnassus fez outra aposta com o diabo, na qual ele trocaria a imortalidade pela juventude, desde que, ao atingir 16 anos, a sua filha se tornasse propriedade do Sr. Nick. Com Valentina prestes a completar 16 anos ele tem de correr contra o tempo para recuperar seus erros passados e não perder sua preciosa filha, fazendo uma nova aposta com o Diabo.
           A qualidade da atuação dos atores é inegável, como podemos exemplificar com Christopher Plummer, interpretando o Dr. Parnassus, ele vai de um sábio místico a um bêbado inveterado. Este é apenas a ponta do "iceberg" de bons atores, Lily Cole, Tom Waits e Andrew Garfield completam o elenco.
          O filme em si tem um tom infantil, mas seu roteiro impecável neutraliza este efeito beirando algumas vezes o suspense, no fim deixa um cenário que causa uma sensação de irrealidade. 


             O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus é um ótimo filme a ser assistido, contudo ele ficou mais conhecido por ter sido o último filme de Heath Ledger, que ficou com um dos personagens mais enigmáticos. Pode parecer confuso as cenas em que Ledger é substituído por Johny Depp, Jude Law e Colin Farrel, mas essa confusão, logo dá lugar a uma normalidade inquietante a cerca do personagem, sendo muito interessante a metáfora que se instala.
             Um filme muito interessante, ao qual é necessário dar a devida atenção, do contrário creio que você ficará perdido no Imaginário do sofrido Doutor...Então, apenas se surpreenda!!

20 de setembro de 2010

Salt


              Quando olhamos para a história batida do filme "Salt", onde uma agente da CIA é acusada de espionagem, e a partir daí começa a história de perseguições em velocidades alucinantes, o famoso jogo de traições entre agentes, Rússia v.s E.U.A., cenas de ação que desafiam a gravidade e qualquer outra lei da física, percebemos os temperos desse filme.
           Vale ver Angelina Jolie, que protagoniza o filme rejeitado por Tom Cruise, que o considerou muito parecido com seus trabalhos anteriores, em uma personagem que não exige muito, mas que lhe coube muito bem. Além de Jolie, Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor não ficam ofuscados roubando a cena toda vez que aparecessem.
               Salt é interessante apenas por que vemos uma mulher em um filme de ação deste tipo (o que é raro nos filmes do gênero).
               Gostei do filme, distrai e cumpre muito bem seu papel de entreter, mas não espere mais do que isso ou você poderá sair decepcionado.



17 de setembro de 2010

Tormenta

O que definir, e o que dizer
Do próprio lar a que pertenço
Se a cada passo e pensamento
Mergulho mais no esquecimento?

O que enxergar, e o que ouvir
Do entardecer em que adormeço
Se a cada verso e movimento
Perco mais o ar que acalento

Se das colinas nasce o perfume
Posso eu respirar o crepúsculo?
Das flores se não brota a noite
Me deitar posso no frio leito?

Sem saber, sem conhecer e ver
Porquês, caminhos e horizontes
Apenas sentir posso, a tempestade,
Cada gota, um cálice de sentimentos

O silêncio, e o que enfim pensar
Se o anoitecer me seduz e acalenta
Enigma! Labirinto? Peregrino?
Sou o que dorme em plena tormenta.


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Escrito em páginas dispersas, em 23/08/2010.

Ouvindo Loreena McKennitt.

Foto: Núcleo Cunha/Indaiá do Parque Estadual da Serra do Mar.
Cedida por Fernanda Campos.