28 de agosto de 2011

Edith Piaf

Não! Sem arrependimentos
Não! Eu não terei arrependimentos
Todas as coisas
Que deram errado
Pelo menos terei aprendido a ser forte
Non, Je Ne Regrette Rien -Edith Piaf

Este trecho define muito bem Edith Giovanna Gassion, ou como ficou mundialmente conhecida Edith Piaf. Cantora e letrista francesa, nasceu em Paris em 1915, filha de um contorcionista acrobata e de uma cantora de cabaré.

A infância de Edith foi muito difícil, marcada por desgraças: seus pais eram alcoólatras, tendo sido abandonada pela mãe.

Aos 16 anos, ficou grávida de Marselle, que morreu aos dois anos. Marcada por essa tragédia, Piaf continuou a cantar nos cafés e clubes da Rua Pigalle, endereços recomendados na Paris da época.

Piaf teve sua vida transformada por Louis Leplée, proprietário do cabaré Gerny's, um dos mais conhecidos de Paris. Com seu sucesso, ficou conhecida como "Mome Piaf" (pequeno pardal).

Contudo, a vida voltou a castigar a jovem Piaf, visto que Leplée foi encontrado morto no clube que dirigia. A cantora foi suspeita do assassinato. A imprensa a acusou e a elite parisiense lhe voltou as costas. Assim, Edith Piaf voltou a misturar-se com as pessoas dos piores bairros de Paris, levando uma vida desregrada.

Piaf, no entanto, voltou a brilhar ao final da 2ª Guerra Mundial, voltando aos grandes cenários da França, Europa e da América. Tornou-se a grande dama da canção francesa, ajudando talentos emergentes. Em 1946, foi para New York onde conheceu o boxeador Marcel Cerdan, morto em 1949, quando sofreu um acidente de avião. Isso causou em Edith uma profunda depressão, que a fez utilizar álcool e tranquilizantes para superar o trauma. Esta foi a época de seus grandes sucessos: La Vie En Rose e Le Trois Cloches.

Em 1950, triunfou no Olympia, e em 1956 no Carnegie Hall, em New York. Porém, depois de um acidente, Piaf ficou desfigurada e tornou-se viciada em morfina. Com saúde frágil, em 1959 teve seu diagnóstico de câncer.

Morreu aos 47 anos, em Florence no ano de 1964.


Algumas obras de Edith Piaf:


Piaf - Um Hino ao Amor, em minha opinião, é uma belíssima homenagem a esta cantora. A caracterização da atriz Marion Cotillard se percebe nos trejeitos, resumindo a força e a fragilidade de Piaf.

A tragédia, as drogas, tudo é tratado de forma sutil, evidenciando a pequena e frágil Pardal, que se torna um verdadeiro cisne em palco.

O filme é uma delicada biografia, um trágico conto da vida de Piaf, mas também é um filme que nos fala de amor, em todas as formas, inclusive as mais cruéis.

21 de agosto de 2011

Cordel do Fogo Encantado

Uma vez ganhei uma camiseta, foto estranha, e nela estava escrito Cordel do Fogo Encantado. Tempos depois alguém me disse: "Essa banda é boa!"...Passado muito tempo depois... Depois da camiseta, depois da pessoa que me falara, eu vi um poema, e o poema era bom, veio alguém e disse novamente "da banda boa", ai ouvi com atenção, ouvi prestando a atenção devida, ouvi sem interferência da mente...e exclamei "Essa banda é boa!"


A banda Cordel do Fogo Encantado nasceu em Arcoverde, Pernambuco. Formada por José Paes de Lira, ou Lirinha, Clayton Barros e Emerson Calado, mais tarde em Recife, recebeu a adesão de Nego Henrique e Rafa Almeida.
A banda mistura elementos de poesia, música, espetáculo teatral, suas apresentações surpreenderam pela magia do clima teatral, pela força de sua sonoridade, utilizando misturas ousadas de instrumentos percussivos com a harmonia do violão raiz.
Sempre surpreendendo, atraindo críticas positivas sobre o trabalho a banda teve seu fim em fevereiro de 2010, quando Lirinha anunciou a sua saída, alegou que tinha necessidade de trilhar novos caminhos.

Cordel do Fogo Encantado (2001)


O Palhaço do Circo Sem Futuro (2002)


MTV Apresenta (2005)


Transfiguração (2006)

15 de agosto de 2011

Enelock

"A meu ver, quem escreve para crianças pode abordar seu trabalho de três maneiras: duas são boas, e uma, em geral, é má."

C. S. Lewis, Três Maneiras de Escrever para Crianças

A frase acima inicia um belo ensaio do renomado autor d'As Crônicas de Nárnia - uma das grandes obras da literatura dita "infanto-juvenil". Em tal artigo, Lewis descreve três arquétipos de escritores para crianças, que ao seu ver são de certa forma comuns. Porém, apesar desse ensaio tratar especificamente da literatura para crianças, esses arquétipos podem ser estendidos à literatura como um todo. É possível enxergar, com certa clareza e nitidez, três tipos de escritores - e não apenas hoje em dia, mas em toda a história da literatura:

Há aqueles que escrevem seguindo os paradigmas já presentes, que seguem fórmulas predeterminadas e que, invariavelmente, garantem um sucesso rápido, estrondoso e, naturalmente, momentâneo. Escrever assim é pensar milimetricamente em como agradar ao leitor. Tais escritores conquistam fãs muito mais pela velocidade com que espalham suas obras do que pelo conteúdo delas. Conquistam também o desprezo de alguns poucos. E as obras escritas sob esse arquétipo, apesar de terem por vezes o poder de nos cativar, de nos fazer rir ou chorar, não nos fazem realmente contestar a ordem natural das coisas. Nesse arquétipo podem ser inseridos muitos dos best-sellers atuais e passados.

Há ainda os escritores que percebem essa falta de profundidade e decidem quebrar os paradigmas existentes. Quebram com as ideias, as regras predefinidas e, fazendo as suas próprias e moldando a arte à sua vontade, criam formas novas. Escrever assim é empunhar uma espada. Tais escritores conquistam não apenas seguidores, mas também inimigos. Não há, para estes, o desprezo, pois suas obras não são "mornas", não permitem a indiferença. As obras desse arquétipo normalmente nos chocam, fazem-nos contestar a ordem do mundo à nossa volta. Nesse tipo de literatura podem ser classificadas a maioria das obras imortais, e algumas poucas da atualidade.

E há, por fim, aqueles que escrevem para si mesmos. Não escrevem com fórmulas, ou empunhando armas, mas escrevem com seu sangue, com sua alma. Não seguem nem quebram paradigmas, pois estes não se aplicam a esse tipo de literatura. Tais escritores por vezes não conquistam fama, mas sim a eternidade. Suas obras não são vendidas como água em cada banca de esquina por dois ou três anos, mas são lidas e compartilhadas nas bibliotecas. Tais obras não nos fazem contestar apenas o mundo à nossa volta: fazem-nos contestar a nós mesmos. Todas as obras imortais pertencem a esse tipo, e raríssimas obras atuais também.


Nessa última semana terminei de ler o terceiro e último livro da série Legado Goldshine, Enelock, do escritor Leandro Reis, de São José dos Campos, SP. Que impressão fica nesse fim de trilogia?

O livro começa intenso, e permanece assim ao longo dos capítulos. Seguindo a evolução encontrada nos outros dois livros, cada personagem é desta vez descrito de maneira mais profunda, sendo exibidos os problemas pessoais que levaram aos acontecimentos maiores do universo de Grinmelken.

Galatea Goldshine continua em sua busca pelas três runas sagradas de seu deus, Radrak, mas desta vez não há como alcançar o portador da terceira runa. Seu maior inimigo, Enelock, mantém tal portador como prisioneiro, usando-o como isca para que os exércitos de todos os reinos venham lutar e sangrar em sua própria terra, Ars Nibul. O interessante nesse livro é que Galatea não é mais a guerreira toda-poderosa do primeiro livro, nem planeja com cuidado cada passo como no segundo. Galatea está cansada. Cansada pelo mundo à sua volta, cansada pela sua impotência, cansada por si mesma. Galatea brilha, mas seu brilho não é mais do que o brilho intenso de uma lâmpada antes do fim. A personagem evoluiu, na série como um todo, de uma mera heroína banal, superestimada por todos e extremamente irreal de fato, para uma mulher que não pode aproveitar os poucos momentos bons que tem devido às suas obrigações com seu reino e o mundo, uma pessoa com feridas profundas demais para cicatrizarem.

Iallanara Nindra, por sua vez, segue seu caminho, com suas próprias lutas e seus próprios inimigos. Não é segredo, e isso já desde a primeira resenha que fiz sobre a série, que Iallanara é minha personagem favorita. Mas, em determinados momentos, cheguei a supor que o mais interessante nessa personagem havia morrido com o fim do segundo livro: a dualidade e a profundidade. Não havia mais aquela dúvida quanto aos seus objetivos, e suas intenções pareciam claras demais, óbvias demais. Porém, isso só tornou mais interessante o momento em que Iallanara mostra quem realmente é, e por que ainda estava ali. A personagem, que já possuía profundidade suficiente para torná-la quase real, nesse livro se torna, assim como Galatea, uma mulher dona de suas próprias ações. As obrigações de Iallanara são um tanto quanto diferentes das de Galatea, mas é fato que há também feridas abertas. Porém, há em Iallanara algo dos grandes personagens da literatura: a imprevisibilidade. Não digo isso por uma determinada verdade acerca da personagem, mas sim pela sua própria natureza. Ela não segue a lógica, muito menos a ordem. E, muitas vezes, não segue sequer a si mesma.

Os dois elfos que acompanham Galatea desde o primeiro livro, Sephiros e Gawin, continuam ao seu lado mas, dessa vez, não são apenas coadjuvantes que nos entretem nos momentos de monotonia. Cada um tem seus próprios problemas, seu passado e, talvez, um futuro, ganhando personalidades mais realísticas.

E, por fim, o personagem-título do livro. Enelock, o Lorde Supremo dos Mortos, que mal havia sido citado no primeiro livro, com uma participação quase ínfima no segundo, desta vez se torna o centro das atenções. Diferente do que eu supunha desde o começo desta série, o vilão não seguiu os padrões de outros livros de fantasia - um ser pura e completamente mal. Enelock também tem seus próprios problemas, e até mesmo seus próprios motivos. Em certos momentos, chega-se mesmo a torcer para que ele consiga encontrar sua redenção. E, dessa forma, o fato de seu maior inimigo ser uma mulher faz todo o sentido (quem ler entenderá). Como toda boa história de fantasia, Legado Goldshine possui um vilão de peso, que não mede esforços, que sabe os pontos fracos dos inimigos, mas que desconhece alguns dos seus próprios. Como todo bom vilão, Enelock acredita que o que faz é necessário e correto.

Dignas de nota são também as descrições dos "anões" de Grinmelken. Contrariando as descrições comuns por um lado, e por outro elevando-as ao máximo, o autor criou uma raça de criaturas interessantes, que poderiam certamente ser mais bem descritas em obras posteriores - o que de fato não cabia a esse livro. Também interessante é a descrição da criatura "criadora" dos vampiros. Semelhante às descrições de um certo sistema de RPG, tal personagem incita ao mesmo tempo o terror e a devoção.

Olhando um pouco além dos detalhes, é possível enxergar uma distina evolução entre os três livros da série. Filhos de Galagah, o primeiro, segue todas as fórmulas já bem conhecidas das histórias de fantasia, focando na honra e em personagens poderosos. O Senhor das Sombras, o segundo, quebra com essas mesmas fórmulas, além de romper com o conceito pelo qual uma história de fantasia deve, mesmo que contenha sangue e luta, ser leve - o segundo livro não é nem um pouco leve. E Enelock?

Em Enelock, novamente as fórmulas de histórias de fantasia são quebradas, mas esse não é mais o foco. Nem mesmo a honra e a glória são o foco. É possível sentir aquilo que se sente quando se lê uma história daquele terceiro tipo de literatura. Os principais personagens se tornam reais, é possível quase enxergá-los à nossa frente, não porque suas feições sejam bem descritas, mas porque suas personalidades são plausíveis. É plenamente possível enxergar Galatea em determinadas pessoas, Iallanara em outras, Sephiros, Gawin... E, infelizmente, é também possível enxergar Enelock em muitas pessoas.

Legado Goldshine termina com uma obra que é o que toda arte deve ser: um espelho dos seus espectadores. Porque, afinal, como Oscar Wilde bem disse, é o espectador, e não a vida, que a arte, na verdade, espelha.

No site/blog da série é possível ainda ler contos, ver entrevistas e ler os artigos publicados pelo próprio Leandro Reis e, naturalmente, comentá-los.

Há também uma entrevista dada pelo autor à Revista Fantástica, com uma mensagem interessante a escritores iniciantes.


Este artigo faz parte do Booktour do Legado Goldshine, promovido pelo autor em seu blog. Leia também as outras resenhas feitas aqui no Sonata Escarlate:

E se você ficou curioso acerca das tais 'três maneiras de escrever para crianças', aquele ensaio citado no início deste artigo está no final do volume único d'As Crônicas de Nárnia.

14 de agosto de 2011

William Butler Yeats

William Butler Yeats, ou mais conhecido como W.B. Yeats é um grande poeta nascido em 13 de junho de 1865, em Dublin, Irlanda. Poeta e autor teatral, ganhou o Prêmio Nobel em 1923 de Literatura.

A obra de Yeats compõe-se de poesia lírica e diversas peças de teatro, inspiradas essencialmente na mitologia celta. Algumas de suas obras mais significativas são: "Cathleen ni Houlihan (1902)", "On Baile's Strand (1904)" e "Deirdre (1907)".

W. B. Yeats foi fundador em 1889, juntamente com a escritora Isabella A. Gregorym, o Irish Literaray Theather em Dublin, transformado mais tarde no Irish National Theatre Society, grande impulsionadora do teatro nacional irlandês, encenando peças de Yeats e J.M Synge.

Em 1887, W. B. Yeats se inscreveu em uma "Sociedade Teosófica", em Londres, onde se dedicou ao estudo dos escritos de William Blake e H.P. Blavastsky, além de alquimistas, rosacruzes, cabalistas, Sociedade Hermética de Dublin, a Ordem da Aurora Dourada.

Em 1917, casou-se com Georgie Hyde-Lees, que veio a se descobrir uma médium passando a psicografar.

Foi com os rabiscos produzidos por ela que W. B. Yeats compôs "Uma Visão", um tratado esotérico cheio de gráficos e descrições dos 28 tipos possíveis de personalidade (26 humanas e 2 sobrenaturais), de cuja matemática ele tirou versos e imagens, cumprindo o que sua esposa psicografara: "Nós viemos trazer-lhe metáforas para a sua poesia".


A ILHA DO LAGO DE INNISFREE

Erguer-me-ei e partirei já, e partirei para Innisfree,
E uma pequena cabana erguerei lá, de barro e vime feita:
Nove renques de feijão aí terei, uma colmeia de obreiras e
Viverei sozinho na ensurdecedora clareira.

E aí terei uma certa paz, porque a paz vem lentamente,
Caindo dos véus da manhã, até onde o grilo canta;
Onde a meia-noite é trémula, e o meio-dia é roxo brilho,
E a noite, de asas de pardais se completa.

Erguer-me-ei e partirei já, porque sempre noite e dia
Oiço a água do lago a folhear murmúrios na rebentação;
Quando vou por estradas, ou por passeios cinza,
Oiço-a no lúmen profundo do coração.


LEDA E O CISNE

Súbito golpe: as grandes asas a bater
Sobre a virgem que oscila, a coxa acariciada
Por negros pés, a nuca, um bico a vem reter;
O peito inane sobre o peito, ei-la apresada.

Dedos incertos de terror, como empurrar
Das coxas bambas o emplumado resplendor?
Pode o corpo, sob esse impulso de brancor,
O coração estranho não sentir pulsar?

Um tremor nos quadris engendra incontinenti
A muralha destruída, o teto, a torre a arder
E Agamêmnon, o morto.

Capturada assim,
E pelo bruto sangue do ar sujeita, enfim
Ela assumiu-lhe a ciência junto com o poder,
Antes que a abandonasse o bico indiferente?


UMA CAPA

Uma capa fiz do meu canto
Debaixo a cima
Bordada
De antigas mitologias;
Mas tomaram-na os tolos
Para exibi-la ao mundo
Como se por eles fora lavrada.
Deixa, canto, que a tomem
Pois maior feito existe
Em andar nu.


MORTE

Nem temor nem esperança assistem
Ao animal agonizante;
O homem que seu fim aguarda
Tudo teme e espera;
Muitas vezes morreu,
Muitas vezes de novo se ergueu.
Um grande homem em sua altivez
Ao enfrentar assassinos
Com desdém julga
A falta de alento;
Ele conhece a morte até ao fundo —
O homem criou a morte.

5 de agosto de 2011

Torpor

Anoitece.
Minha sombra fugiu
Meu corpo se cansou
E então desapareço
Na espera por outro dia

Chove.
A lágrima secou
A língua se esqueceu
Do cálido toque
E em torpor se calou

Janelas até batem
Árvores até discutem
Mas ah, braços soltos
Dedos que não tem vontade

Falso interesse onipresente
De todos os lados, vazio
Letargia das letargias
Um quase infindo rallentando

E tanto tempo!
Poeira acumulada
Fino pó na entrada
De um espetáculo interrompido

Levado pelo cálido abraço
Aconchegante rotina que enlaça
Esqueci-me de bater,
De acordar o coração

O sangue até não parou
Mas o olhar arrefeceu
À vista de maravilhas
Enxergar não mais era preciso

Agora, porém, eu vejo
O escuro inevitável
A cela bem vestida
Qual sono primaveril

Fala então, desperta,
Solta a voz esquecida
Deixa-a gritar
Verte tua fúria,
Tua tempestade

Calarei o dia
Alçarei meu próprio vôo,
Corpo em chamas, das cinzas
Em sombra e luz nos céus
De minha longa
Minha eterna noite



Escrito no Circo, em 04/08/2011, às 21:20h

Ouvindo Valsa opus 34 nº 2,
de Frédéric Chopin