5 de agosto de 2011

Torpor

Anoitece.
Minha sombra fugiu
Meu corpo se cansou
E então desapareço
Na espera por outro dia

Chove.
A lágrima secou
A língua se esqueceu
Do cálido toque
E em torpor se calou

Janelas até batem
Árvores até discutem
Mas ah, braços soltos
Dedos que não tem vontade

Falso interesse onipresente
De todos os lados, vazio
Letargia das letargias
Um quase infindo rallentando

E tanto tempo!
Poeira acumulada
Fino pó na entrada
De um espetáculo interrompido

Levado pelo cálido abraço
Aconchegante rotina que enlaça
Esqueci-me de bater,
De acordar o coração

O sangue até não parou
Mas o olhar arrefeceu
À vista de maravilhas
Enxergar não mais era preciso

Agora, porém, eu vejo
O escuro inevitável
A cela bem vestida
Qual sono primaveril

Fala então, desperta,
Solta a voz esquecida
Deixa-a gritar
Verte tua fúria,
Tua tempestade

Calarei o dia
Alçarei meu próprio vôo,
Corpo em chamas, das cinzas
Em sombra e luz nos céus
De minha longa
Minha eterna noite



Escrito no Circo, em 04/08/2011, às 21:20h

Ouvindo Valsa opus 34 nº 2,
de Frédéric Chopin

2 comentários:

  1. O palhaço, o pierrot, o harlequim, também alcançam sua decadência, porque nada escapa ou não se deixa ser visto pelos olhos do tempo.

    O "eu" lírico desse poema retrata você nesse momento ou é impressão minha?

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  2. A decadência existe, sim, mas não é mais que parte do espetáculo. Afinal, toda tragédia alcança seu clímax quando suas personagens estão nos piores momentos, não é mesmo?

    Mas interpretar palavras e versos alheios não é mais do que deixar transparecer suas próprias verdades...

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