7 de setembro de 2012

Ao despertar de um sonho inquieto, certa manhã, Gregor descobriu que se havia transformado num gigantesco inseto. - Kafka.

Laurent Seroussi, fotógrafo francês, realizou um ensaio bem interessante. Um misto de beleza e estranheza, o artista mesclou a imagem de modelos com insetos.

O Projeto Insectes é uma obra que busca unir o atraente e o repulsivo, não possuindo uma relação com o Gregor de A Metamorfose de Kafka, como podemos pensar em uma primeira análise.

Com cores e uma visão delicada deste mundo entomológico, a produção ficou bem interessante! Confira abaixo o resultado:

23 de agosto de 2012

Black Rock Shooter

Através de um vídeo postado por um amigo, me interessei por este anime, gostei dos traços, a imagem me agradou!

Com receio, fui buscar informações sobre ele, e descobri que é uma série curta de oito episódios e um OVA lançado em 2010.

O enredo de Black Rock Shooter se passa em dois mundos diferentes, um real e outro onírico. No mundo real nos vemos acompanhando a história de duas jovens: Kuroi Mato e Takanashi Yomi. O anime se concentra na ânsia de Kuroi Mato em se tornar amiga de Takanashi Yomi, que demonstra ser uma garota simpática, mas muito retraída, aparentando esconder um segredo.

Ao mesmo tempo, somos apresentados a Black Rock Shooter, uma estranha e misteriosa menina de cabelos negros e olhos azuis que caminha lutando em um estranho mundo contra Charriot, Black Gold Saw e Dead Master. Ao longo do anime outras personagens vão aparecendo, gerando mais conflitos e mistério.

O anime, embora curto, é bem interessante, e a uma primeira vista é bem confuso. Contudo, a forma como os conflitos são trabalhados é bem legal, embora ao meu ver muito inocente, tratando de um tema bem evidente na sociedade atual: a falta de capacidade das pessoas de resolverem seus problemas, a fuga de responsabilidades, decepções, frustrações etc.

Por fim, o anime só surpreende quando você não se deixa levar pela atmosfera inicial, achando que haverá um grande mistério ao final, o que não ocorre.

O grande charme de Black Rock Shooter é seu traço, as batalhas, cumprindo bem o papel de uma sessão da tarde interessante!


5 de agosto de 2012

Contos do Absurdo

Uma das coisas que mais agradeço pelo advento da Internet são as possibilidades que ela nos apresenta: navegar a esmo, por vezes, nos faz encontrar pequenos tesouros...

Contos do Absurdo é um projeto interessante idealizado por Mario Mancuso, que reúne histórias de vários tipos sobre o bizarro e o sobrenatural. A revista é digital e gratuita, podendo ser baixada no site Contos do Absurdo.

Uma miscelânea de estilos, formatos, traços, torna a revista um conteúdo bem legal de ser lido, e principalmente (para quem não está acostumado) de forma rápida.

Para os aspirantes e aventureiros, a revista é aberta a novas contribuições, bastando que mande o projeto ou sugestão para apreciação!

Um projeto bem interessante, que vem a contribuir de forma positiva com o cenário brasileiro de HQs!

Para maiores informações, visite o site Contos do Absurdo.

9 de julho de 2012

Dorian

Eis o alvo alcançado
Em anos, perde-se a conta
Marcas, dores
Cicatrizes

O que o corpo pede,
Cede
Cada desejo
Mais desejo de morte

Eis o que se quis
Momento algum
O almejo e o fruto
Feito um apenas

O que se vê
É o que se come
Engole o fogo em salto
Queima, qual tempestade

Eis a criatura imaginada
A agonizar
No reflexo turvo
Do moribundo criador



Escrito em 5 de julho de 2012.

Imagem: Auto-retrato com vinte e quatro anos,
by Dominique Ingres.

Hoje

Andava quieto, só,
Pensando no que viria,
Nos odes futuros,
Sem cantar uma nota

Calou-se o Tempo, pois corria
Desesperadamente na rotina
Ator transfigurado
Na mais bela personagem

E leve
Cálido
Intenso noir dormente

Um passo, e aperta a dúvida
Os olhos suportam?

Questionamento infindável
Sempre às bordas de um terraço
Pés prontos a saltar
Mas a mente insiste
Batalha
E vence
Por mais uma sobrevivência



Escrito em 4 de julho de 2012.

Imagem: Visions of Metropolis 2, by W.B. Sloan.

Mudança

Findou-se o ato
Sem fôlego, pendeu o ator
Sobre o palco sujo
De letras palavras versos

Esgotou a voz
Naquele "diálogo" último
Sangrou demais os dedos
Tecendo a inútil dialética

E, quando se apaga a luz
Eis que outro tom é aceso
Em cor dodecafônica

Ele ouve, e anda
Com ouvidos procura
A fonte daquele vinho

Bebe, e lhe dá sede
Água de Alice, veneno
Doença quente no peito
A matar novas palavras

Que já não lhe basta
A realidade das palavras.
A sanidade dos versos
É para ele só inércia

Pois notas queimam
Cadências ardem frescas
No salão turvo
De memórias reinventadas

Aquele circo de dores
Trouxe ao menos força
Ao som gritante,
Antes quieto num casulo

Pois gritará.
Alçará a voz em acrobacias
Entornará a luz em si
Tempestade só, a destruir,
Para recriar com nova vida
Ou ao menos mostrar
A escuridão que se inicia.



Escrito em 25 de maio de 2012.

Imagem: Subversion, by Miriam Sweeney.

8 de julho de 2012

A aprendiz

Não é que não seja belo
Nem que não satisfaça
O espetáculo torpe
Da mediana atriz

Sabe algumas falas
(Embora me tenha dito
Que as sabia todas)
Decora muito bem

Mas sua face retorcida,
Naquela tosca tentativa
De um riso a la Tchékov

Enjoa, não faz pensar
Lembra o ingresso pago
E assim suscita o ódio
Sibyl Vane que nem amou

Desce daí, que já se esgota
O prazer da cobiça
Encerra o ato
Que já me enoja a tua voz!

Tu nem rosa és!
Mero botão, que não suporta
Sangue de um Curinga

Não é que tenha sido precoce
A chegada daquele fim
Nem que desejasse
Uma peça rápida e vã

Mas uma "arte" dessas,
Enquanto me suja de cinza,
Toma meu tempo
Corrompe meu palco
E cansa
Muito mais do que ensina



Escrito em algum dia morno de maio de 2012.

Imagem: Neda's Entrance, by Sergio Lopez.

21 de junho de 2012

E Nós o recriamos...

Neste tempo louco de junho sai a graphic novel de Rafael Campos Rocha, artista plástico e quadrinhista, Deus, essa gostosa.

Com heresia no nome e em sua descrição, a graphic novel traz uma leitura interessante dos personagens bíblicos e de temáticas complexas como religião e sexo.

Deus, essa gostosa tem ganhado muitos fãs na mesma proporção do desconforto que causou, pois nesta narrativa o leitor acompanha sete dias da vida desta Criadora incomum, fã de futebol, amiga de Karl Marx e do Diabo, dona de sex shop, envolvida em movimentos exóticos/esotéricos do amor carnal.

Embora ainda não tenha lido, achei a proposta bem interessante!

27 de abril de 2012

De um monólogo

Pois então visitei a Loucura, e ela me agarrou com braços fortes, fez-me amante, senhor e servo, até me dilacerar com suas garras de harpia.

És tu então que vem, desafiando a proteção frágil que construí? Tens nas tuas mãos flores das mais cruéis, nas tuas mãozinhas que quase amassam pétalas. Mas por que, por que não abres tua boca?

Cinza, inércia se fez da mais bela dança que valsei. Sutileza, gentileza, pergunta, e apenas o silêncio. É assim que se destróem pontes e se erguem muralhas, sabes?

E agora apontas para meus braços, derramando as pétalas mais podres, como se eu os aviltasse a cada noite em nova dança. Pequena, se sou uma Bovary, não é senão porque busco o incêncio que já encontrei em ti, e que me basta. Basta-me ainda banhar-me nas poucas brasas que ainda aquecem minha nuca, mas se vês em mim um trapezista, a saltar de corda em corda, talvez teu passado te ofusque a visão.

É verdade que já parti o espelho de Shalott, mas logo depois encontrei o fim. Não terás tais cacos, é fato, mas sinto que um certo Iago corrompe por dentro a tua força de mouro general.

Abaixa então teus braços, relaxa teus ombros. Não fui eu, Ofélia, que matei teu pai, não desejei tua queda. Mas cuida, que vais encontrar teu pântano sepulcro embaixo do salgueiro Indiferença, nascido não das minhas palavras, nem da falta delas, mas do silêncio de tuas faces multifacetadas.




Escrito em 23/04/2012, num bloco de papel.

Em preparação a um conto.

Imagem: Renaissance by Delphine Pavy.

17 de abril de 2012

Google, Doodles e outras histórias...

A criatividade não tem limites, e para mim uma das amostras mais interessantes dessa verdade é abrir a página de pesquisa do Google e encontrar diversas referências a pessoas, eventos e outros temas que marcaram a nossa história, na remodelagem do logotipo do Google.

Segundo o site Doodle 4 Google:

Divertir-se com o logotipo corporativo e redesenhá-lo de tempos em tempos é impensável em muitas empresas – mas, no Google, isso faz parte da marca. Ainda que o doodle seja antes de tudo uma maneira divertida da empresa reconhecer eventos e pessoas notáveis, ele também evidencia a personalidade criativa e inovadora da própria companhia.

Essa brincadeira recebeu o nome de Doodle, surgindo em 1999 quando Larry e Sergey, fundadores do Google, brincaram com o logotipo corporativo marcando presença no Festival Burning Man, no deserto de Nevada.

O desenho representava que o "pessoal" havia saido do escritório para prestigiar o evento e, mesmo sendo bem simples, agradou os usuários.

Um ano depois, ambos os fundadores, pediram ao atual webmaster Dennis Hwang (na época um estagiário) para elaborar um doodle em comemoração ao Dia da Queda da Bastilha. Obtendo sucesso com seu doodle, Dennis Hwang passou a Doodler-chefe, e os doodles passaram a se tornar algo regular na página inicial do Google.

No início eles marcavam apenas os feriados e eventos mais conhecidos dos usuários, porém, atualmente eles celebram grande variedade de eventos, incluindo os menos conhecidos.

Com a popularização dos doodles sua demanda aumentou, e hoje, sua criação fica na responsabilidade de uma equipe de criação. Até hoje já foram criados por volta de 300 doodles para os EUA e 700 para o resto do mundo. A equipe também se reúne regularmente para decidir quais feriados e eventos receberão os doodles, e quais serão os doodles utilizados, escolhendo os mais inovadores e criativos.

Abaixo alguns que achei mais interessante. Para conhecer mais, entre no site com os doodles já criados.

A homenagem do Google ao guitarrista Les Paul, segundo dados publicados pela Rescue Time em seu blog, custou à economia mundial R$ 268 milhões, referindo-se ao custo que as empresas tiveram com seus funcionários acessando durante o expediente de trabalho a página.


Em comemoração ao 122º aniversário de Charles Chaplin, o doodle desenvolvido foi um vídeo com pouco mais de 2 minutos, que mostra um cover de Carlitos em situações engraçadas.


Em 11 de maio deste ano o Google criou um doodle em homenagem ao 117º Aniversário de Martha Graham, com animação de Ryan Woodward, coreografia por Janet Eilber, executada por Blakeley White McGuire (principal dançarina da Martha Graham Dance Company).


Em 08 de fevereiro de 2011 o doodle foi uma homenagem ao 183º Aniversário de Júlio Verne, inspirando-se no livro Vinte Mil Léguas Submarinas, captando a sensação de explorar o mar a bordo do Nautilus (submarino do livro), a mesma sensação em ler o livro.


Em 21 de maio de 2010 o Google homenageou os 30 anos da criação do Pac Man, um jogo que, apesar de simples, diverte ainda hoje. O doodle é uma adaptação do clássico jogo, permitindo ao usuário jogá-lo, bastando para isso que se aperte o botão Insert Coin (Insira moeda), no lugar do Estou com sorte, então o usuário inicia o jogo.

O jogo também possui o modo multiplayer para 2 jogadores. Para isso, basta clicar no botão Insert Coin, e aparece a Ms. Pac Man, controlável pelas teclas WASD.


Em 15 de junho de 2011 na página inicial do Google era possível acompanhar o eclipse lunar em tempo real.

No dia 31 de março de 2011 o usuário do Google pôde brincar com o queimador aperfeiçoado pelo químico alemão Robert Bunsen, que hoje é conhecido como bico de Bunsen.


Em 11 de fevereiro de 2011, o homenageado da vez foi Thomas Edison, considerado um dos maiores inventores de todos os tempos.


Em 06 de setembro de 2010, o doodle foi o Google Instant - Particle Logo.


No dia 08 de novembro de 2010 o doodle escolhido foi uma homenagem ao físico alemão Wilhelm Röntgen, por sua descoberta há 115 anos: o Raio-X.


No dia 06 de janeiro de 2006, os usuários viam na página do Google uma homenagem ao aniversário do francês Louis Braille, inventor do sistema de leitura para cegos, cujo logo podia ser visto em Braille.


Existem muitos outros bem legais, como a comemoração do aniversário de H.R. Hertz, o de protesto contra a S.O.P.A. e a P.I.P.A., a homenagem ao aniversário de Freddie Mercury. A criatividade para informar e protestar!

Outros doodles interessantes abaixo. Adivinhe quais foram os homenageados?


Em ordem, a resposta para os desenhos do quadro:

70º Aniversário de Bruce Lee ( China, Hong Kong, Taiwan, no dia 27 de novembro de 2010), Aniversário de Charles Darwin (Global, no dia 12 de fevereiro de 2009), 112º Aniversário de Zhang Daqian (China, HOng Kong, Taiwan, no dia 10 de maio de 2011), 172º Aniversário de Cezanne (Global, no dia 19 de janeiro 2011), 95º Aniversário de Edith Piaf (França e Alemanha, no dia 19 de dezembro de 2010), Aniversário de Escher (Global, no dia 16 de junho de 2003), Aniversário de Vivaldi (Global, no dia 04 de março de 2010), 120º Aniversário de Agatha Christie (Alguns países, no dia 15 de setembro de 2010), Aniversário de Oscar Wilde (Alguns países, no dia 16 outubro de 2010), Festival da Lua (China, Hong Kong, Taiwan, no dia 22 de setembro de 2010), 110º Aniversário de Antoine de Saint-Exupery (França e Alemanha, no dia 29 de junho de 2010), 110º Aniversário de René Magritte (Global, no dia 21 de novembro de 2008), Aniversário de Pablo Neruda (Países Selecionados, no dia 12 de julho de 2009), 213º Aniversário de Mary Shelley (Reino Unido, no dia 30 de agosto 2010), Aniversário de Rumi (Turquia, no dia 30 setembro de 2008), Dia de Martin Luther King Jr. ( EUA, dia 19 de janeiro de 2009).


13 de abril de 2012

De um poema de amor

ou Pássaro de Fogo
Duvida que as estrelas são fogo
Duvida que este sol se mova
Duvida da verdade para seres mentirosa
Mas não duvides (...)
Que eu possa esquecer
__________________________________

Vê, as cores que partiram
Pelos nossos braços
Matizes vivas
A correr na pele suave

Pelo teu pescoço, tua nuca
Martírio do cárcere
A gritar liberdade

Azuis a queimar
Nos cabelos pretos
Um toque
Lascivo mergulho

E notas, leves
No crescendo interminável
Pela curva de teu dorso

E sente, o calor a nascer
Do silêncio sem cor
Um pássaro de fogo
A pousar em pequenino seio

Dedos que dançam
E prendem, ou tentam,
O momento em presto
Entre mãos que se beijam

Ouve então.
Se em teu pequeno corpo
E em meu cárcere
Nasceu tal rapsódia

E se o coda final
Não foi mais que decepção

Não foi senão sonho
Real distorção de sabores
A acordar da realidade
Para nela lançar como jamais



Escrito em um bloco de papel,
em 12/04/2012.

Ouvindo Opheliac, by Emilie Autumn.

Citação: trecho de Hamlet, W. Shakespeare.

Imagem: cena de Fantasia 2000,
sob adaptação da peça Pássaro de Fogo,
de Igor Stravinsky.

10 de abril de 2012

Invernal

Queima a tarde
Arde a noite
No silêncio das horas soltas
Caí

Vinho de diferentes taças
Mas um gole apenas
Cada fruto, a sua agonia

Tal inverno que sempre surge
Maldição divina

Pois eis que provei
Do mesmo sangue enfermo
Que já um dia me matou



Escrito no Circo, em 09/04/2012, à 01h AM.

No silêncio.

Imagem: My muse, by Leslie Ann O'Dell.

7 de abril de 2012

De uma incerteza certa

E, tendo ficado vago,
Também turvou-se a fé
Descoloriu-se
Reagindo à inércia

Que não vale o esforço
De sangrar em alimento
De repetir o mesmo ode
Não vale o levantar dos olhos

Paga, porém e com folga,
Uns versos meio mancos
Que, se não ma despedem,
Ao menos saem vivos



Escrito em 04/04/2012,
ao som do trânsito
e dos pensamentos.

Cansado da repetição.

6 de abril de 2012

Qual o valor de um livro?

Já diria alguém que o preço de um produto não tem absolutamente nada a ver com o seu valor real. Se é realmente assim, é fácil lembrar de produtos caros que não valem realmente muito, e de pequenas coisas que possuímos que valem muito. Uma foto antiga, uma anotação em um caderno, um presentinho comprado em alguma lojinha de artesanato... Um livro....

Particularmente guardo um grande afeto pelos livros que tenho. Não que eu os guarde a sete chaves (na realidade amigos acabam levando alguns dos melhores), mas eles tem um grande valor pra mim. Por isso, quando fui confrontado, há alguns dias, com a pergunta título deste artigo, fiquei um certo tempo pensando sobre o real valor de um bom livro...

Em algumas estações dos metrôs das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro é possível se deparar com aquela pergunta, e com uma agradável surpresa: máquinas contendo livros, semelhante àquelas de refrigerante. Porém, o preço não é fixado! Ao invés disso, é possível ler, em letras garrafais, acima das máquinas: Pague quanto acha que vale. Possível?

Algumas pessoas se aglomeravam em volta das máquinas, surpresas tanto quanto eu com aquilo. Alguns descrentes iam embora achando se tratar de alguma brincadeira, mas alguns livros eram pescados de tempos em tempos (inclusive pesquei o meu, Manon Lescaut, de Prévost).

Para ver os livros nesta máquina, clique na imagem

A iniciativa é da 24X7 Cultural, uma empresa com fins lucrativos cuja missão, segundo seu próprio site, é de facilitar a formação de novos leitores, incentivar o hábito da leitura de forma sustentável e consequentemente melhorar os indíces de alfabetização funcional do Brasil. A primeira máquina de livros, como é chamada pela própria empresa, começou a funcionar em 2003, na estação São Joaquim do metrô de São Paulo.

De lá pra cá, com treze máquinas em São Paulo e mais de um milhão e duzentos mil livros já vendidos, o que era um projeto experimental se tornou uma solução viável em distribuição e comercialização de livros de qualidade a um custo baixíssimo e acessível à população. A uma população que supostamente não lê. E que, segundo o próprio fundador da 24X7, compra Nietzsche, Maquiavel, Platão, Diderot e Sun Tzu - autores mais vendidos nas máquinas. Um sinal de mudança, ou uma mudança de fato?


As fotos deste artigo foram tiradas na estação Barra Funda do metrô de São Paulo.


24 de março de 2012

500 anos de rostos femininos


A noção de beleza mudou através dos séculos, as curvas e corpos robustos, antes muito apreciados, hoje já não são sinônimos para beleza e saúde.

A arte segue o mesmo padrão, modificando-se ao longo dos anos.

Em 2006, o Youtube lançou o Youtube Awards, um concurso que elege os vídeos mais criativos e de maior sucesso na rede. Um dos vídeos indicados no concurso de 2007, 500 Anos de Mulheres na Arte Ocidental, trabalha este tema da beleza na arte vs. tempo, mostrando por meio de montagens vários rostos femininos pintados por vários artistas conhecidos. O resultado ficou bem interessante, vale a pena conferir!

Para saber o nome das pinturas, e maiores informações, acesse o site do projeto (em inglês).

23 de março de 2012

Sobre alguém interessante

Há muito tempo ouvi falar de uma sonata de Beethoven, "apelidada" de Waldstein. Parecia-me ser uma das obras para piano mais difíceis, já que foi no contexto de virtuoses que vi o nome tão singular. Parecia ser obra complexa, intrincada, de assimilação lenta.

Cheguei mesmo a encontrar uma interpretação da alemã Alice Sara Ott, mas não a escutei. Talvez por receio de me amedrontar com a dificuldade, mas por certo que não era o momento apropriado – naquela época talvez não entendesse a dita riqueza dos sons.

Bem, há quase dois meses consegui com um professor uma coleção contendo todas as sonatas para piano de Beethoven, interpretadas pelo pianista argentino Daniel Barenboim – e, claro, entre elas estava a Waldstein.

Surpresa agradável, deliciei-me com a forma como Waldstein discorre, por meios ainda tonais mas certamente avançados para a época, entre a euforia e a depressão. Tão maravilhado fiquei, que a escutei repetidas vezes, por repetidos dias. Até que veio a erva daninha...

Por escutá-la demais, a sonata não me deixava só. Ouvia-a no trânsito, nas palavras, na comida, no atraso e no descanso. E quando digo que a ouvia, era ouvir internamente. Suas notas sobrepujavam qualquer tentativa de recordar outra música, por vezes mesclando-se com as novas notas, até que não houvesse outra música senão um dos seus três movimentos.

Um certo desespero tomou conta, naturalmente, levando a tentativas sucessivas de, se não esquecer, ao menos enxertar outras notas no lugar. Tarefa fácil não foi, mas penso que consegui. Ouço agora mesmo o silêncio reconfortante das árvores, e nem uma única vez, enquanto deitava estas linhas sobre o papel, passou pela minha mente a tão falada Waldstein.

Às vezes, eu acho, é preciso ouvir o silêncio para que os sons façam algum sentido.





Em 22/03/2012, em um bloco de papel, por volta do meio dia.

18 de março de 2012

De uma incoerência

É a noite que morre quieta
A conversa que se cala
O consenso na discórdia

Toque que virou lembrança
Memória, em desalento
Riso tornou-se o frio
Tremer ante um afago

Espaço demais, tempo de menos
Infinidade de sabores
Perdidos
Entre os teus e os meus dedos



Em um bloco de papel, n'algum dia da semana passada,
por volta do meio dia.

No silêncio do barulho urbano.

Imagem: Lynn, by Neo Innov.

16 de março de 2012

De um anacronismo espacial

Céus, eu lhes peço
Apaguem a luz
Ou ao menos desfoquem
Em tons de inverno e chuva

Meu peito já não aguenta
A força de algumas palavras
Não se formam
E me restam apenas repetições

Reflexos, ponteiros, flores, cores e tons
Reinvenção do inevitável
Eco do mesmo sangue
Vertendo por saídas diferentes

Meus olhos pendem cansados

Silêncio, sem supor
Sem miragens ou oásis
Apenas quieto e só

Desejo que entorna
Das bordas turvas da dúvida
Mulher que ri
Doce mel a cair do favo
No mesmo clichê de fatale

Meu corpo cede, em cacos,
À sepultura comum do sono
Um belo verso, e nada mais.




Escrito em um bloco de papel, em 15/03/2012,
por volta das 12:30h.

Ouvindo pássaros, conversas e o trânsito,
sob um sol escaldante.

Imagem: Faith,
by Hengki Koentjoro.

15 de março de 2012

Fantasia-Improviso

Subiu no palco
Palmas!
Vermelhas as cortinas
Que descobrem outro grito

Eis que canta!
Ouve o ar
Dança a essência
Sente o calor

Pele, olhar, ideia
Cala, ouve novamente
E salta...

Saltou.

Resposta?
Retorno?
Algum mísero olhar
Antes do trágico impacto?

Mas a surpresa!
As luzes se acendem
Havia plateia
Enfim outro noir!

Enquanto no ar
Passos alcançaram o palco
Laços abraçaram
O espetáculo de cores
E outro tom se acendeu!

Chão.

Que sons?
Que cores?
Palavras
Toques
Versos
Notas
Traços
Qual grito nascia?

Ergueu os olhos
Contornou os negros fios
Fitou os cálidos olhos
Ouviu a voz em adagio
Improvisar a cadência
Imprevisível presença

Subiu.

Há palco?
Sobram tempos no compasso
Ou as cores se suplantam?

Ah, nova surpresa!
Jamais bateu, jamais correu,
Mas ali, ansioso,
Bateu pela primeira vez
E também correu quente
Pelas artérias confusas

Luz!
O Circo tem cores
O Palco tem sons
Espetáculo multifacetado
Das infinitas palavras
Notas e traços
A dançar, como jamais
A viver, feito o pássaro
Que descobriu poder voar!

E ainda assim eu temo a queda. Vendo a calmaria indesejável se aproximar da apaixonante tormenta. Mas digo "sim". Versos demais já foram queimados, notas demais já foram libertas, mas, ainda assim, aqueles olhos negros valem esse novo ressuicídio.

Ainda que meu elísio negue, ainda que minhas páginas mostrem antigos e familiares espinhos. Ainda que um doce Curinga insista em me incitar das cinzas. Ainda que um Espelho, um Relógio e duas flores de um Jardim gritem o caminho inverso, abro as portas do Palco.

O espetáculo da mais intensa vida - e talvez do mais pungente salto - fez soar suas primeiras notas.



Escrito no Circo, em 14/03/2012, pouco depois da meia noite.

Ouvindo Rolling in the Deep, Adele.

Imagem: A Girl, by Neo-Innov.

17 de fevereiro de 2012

Uma fermata...

Pois então aqui estou, no fim de mais uma tarde, sufocando o cansaço com meu próprio reflexo. A velocidade das horas, a intensidade das cores é tamanha, que às vezes me interrompo, recostado em algum repouso, para respirar e tentar olhar, ainda que furtivamente, pela fresta da fechadura da grande porta que cruzo a cada dia. Sobram-me lapsos, momentos de um espectro, sempre perto, sempre longe, em que vislumbro o clímax, o apogeu, o fortíssimo de uma peça que jamais parece evoluir. E então, como perdesse o trem na estação, salto novamente para alcançar o ritmo inevitável da rotina.

Por acaso ela, a rotina, roubou o sangue pulsante? É então assim que, tendo se acostumado com as chibatadas, o escravo cede o último átimo de dignidade? Eis que eu me renovo a cada vento noturno, mas é assim que as cicatrizes se acumularam sem que eu ao menos percebesse – e se percebi, não me esforcei com a esquiva – ?

A rapsódia dos últimos tempos, porém, talvez traga esperança: que o negro cálido ardor por ora queima, ainda que a casa esteja mal iluminada; que o grito ainda tem força; e que o coda final, ainda que curto, encerra a cadência mais pungente de todas.





Escrito em um pequeno bloco de papel, em 16/02/2012, por volta das 18 horas.

Ouvindo o trânsito por uma janela de ônibus.



* Fermata é um símbolo, usado em notação musical, para indicar que uma nota ou pausa deve ser mantida por mais tempo que o normal, ficando essa duração a critério do intérprete. Aparece normalmente no final de períodos ou mesmo da própria peça.

12 de fevereiro de 2012

Profissão: Músico

– E o que você anda fazendo da vida?

– Continuo com meu trabalho como músico, né, cada vez mais.

– Ah que legal!!! E qual é a sua profissão???

...

A música é sem dúvida uma das manifestações artísticas mais poderosas que existe. Como dito no prefácio de um livro de história da música (de cujo autor infelizmente não consigo me recordar), ela é a única das artes que não nasce da imitação da natureza. É o completo triunfo da natureza humana.

A despeito disso, é raro encontrar alguém que considere a música como profissão (mesmo dentre musicistas). Normalmente o conceito que vemos e ouvimos é de que músicos são boêmios, não estudam, não trabalham, levam uma vida fácil. E, curiosamente, essa última afirmação ainda lembra a profissão dita mais antiga do mundo. Duvido realmente que aquela profissão mais antiga fosse realizada sem nenhuma música de fundo...

Ocorre que ser músico é uma profissão, e das mais difíceis.

Profissão: Músico é um documentário (relativamente curto) realizado pelo Projeto Comma juntamente com Daniel Ignácio Vargas, que trata da difícil batalha diária que todo músico (que abraça a sua causa) enfrenta. Mostrando artistas do Brasil e de vários outros países, o documentário nos dá uma visão ampla de como é, hoje, a vida de um músico. Combate, por exemplo, a ideia de que baixar músicas de graça na internet deixa os músicos mais pobres. Mas combate também a noção de que ser músico é apenas farra, apenas sexo, drogas e rock'n roll.

Para interessados, o blog Profissão Músico contém mais informações sobre o documentário.

Com vocês, a profissão realmente mais antiga do mundo: músico!

10 de fevereiro de 2012

Carpe Diem

Eu não quero o dia
Não quero as massas
As lotações e os enxames
Eu não quero o barulho
O vaivém e a buzina
Não quero motores
Não desejo os outdoors
Letreiros óbvios protuberantes
Eu não quero a luz
Branca fria sobre a mesa
Não quero o sol
Direto do asfalto quente

Eu não comerei
A ganância nossa de cada dia
Não conversarei
A idiotice óbvia da rotina
Hei de não erguer
O copo cheio de palavras
Hei de não dormir
O descanso cego do escravo

Eu desejo o fim
Num adagio sensível
Quero a lentidão
Do toque sem palavras
Eu quero a concordância
Em silenciar a vida
Para viver como nunca mais



Escrito no Circo, em 08/02/2012, às 00:30h.

No silêncio.

Imagem: Lost,
by Hengki Koentjoro.

18 de janeiro de 2012

O pequeno Frank de Burton

Frankenweenie, animação em stop-motion de Tim Burton (Alice no País das Maravilhas), ganhou mais uma nova imagem.

O longa é adaptação de curta-metragem homônimo do próprio Burton, de 1984, que ganhará versão em 3D nos cinemas. Conta a história do jovem Victor Frankenstien que realiza um desastrado experimento para trazer de volta à vida seu cachorro Sparky, atropelado por um carro.

Para dublar os personagens, Tim Burton chamou alguns velhos conhecidos como Winona Ryder (Edward Mãos de Tesoura), Catherine O'Hara (Os Fantasmas Se Divertem), Martin Short (Marte Ataca!) e Martin Landau (Ed Wood).

A estreia do filme está prevista para 2 de novembro deste ano. Abaixo, o terceiro filme da carreira deste grande diretor.


14 de janeiro de 2012

Canto Gregoriano e sua nova roupagem

O canto gregoriano é uma antiga manifestação musical do Ocidente, com raízes nos cantos das antigas sinagogas. O canto surgiu da junção da cultura dos judeus convertidos, que cantavam os salmos e cânticos do Antigo Testamento, com elementos da música e da cultura greco-franco-romana, que foram acrescentados pelos gregos e romanos que se convertiam.

O período de formação do canto gregoriano vai dos séculos I ao VI, com auge nos séculos VII e VIII, mantendo-se com certa popularidade nos séculos IX, X e XI, quando inicia-se sua decadência.

A denominação "Gregoriano" ficou como homenagem ao papa Gregório Magno (540-604) que publicou, em 2 livros, uma coletânea de peças (Antifonário, melodias referentes às horas canônicas, e o Gradual Romano, contendo os cantos da Santa Missa). Gregório também iniciou a Schola Cantorum, que proporcionou grande desenvolvimento ao canto gregoriano.

No final do século XIX, o Mosteiro de São Pedro de Solesmes (França), a partir da iniciativa de Dom Mocquereau, tornou-se o grande centro de estudos e práticas do canto gregoriano. Ali também iniciou-se o trabalho de recuperação de antigos manuscritos do século VIII e IX, sobre o canto gregoriano.

No século XX, o papa Pio X pede aos monges para realizarem uma edição moderna com referência nos manuscritos, surgindo então a Edição Vaticana. Em 1985 foi lançada uma outra edição chamada Graduale Triplex com as 3 notações do canto gregoriano: a Vaticana, a de Laon (França) e a de Saint Gaal (Suíça).

As principais características do canto gregoriano, ou canto chão, são: as melodias cantadas em uníssono, sem predominância de vozes (homofônico); ritmo livre, sem compasso, baseado na acentuação e no fraseado; cantado sem acompanhamento de instrumentos musicais; e letras em latim, baseadas em sua grande maioria nos textos bíblicos.

A partir de 1994, lançou-se um novo olhar para o canto gregoriano, quando a gravadora EMI lançou em CD um disco que havia sido gravado há mais de 20 anos pelos monges do Mosteiro de Santo Domingo de Silos; o disco alcançou um sucesso considerável, atingindo a marca de 5 milhões de cópias vendidas.

Atualmente, existem vários grupos que executam versões de músicas famosas em estilo gregoriano. Um desses grupos é o Gregorian.

Gregorian é um projeto musical alemão liderado por Frank Peterson, que faz versões de músicas dos anos 60 aos dias de hoje. Formado por 8 vozes, o grupo foi considerado um modismo, mas a partir de 1998 o projeto passou a focar mais em sons populares e traduzi-los para o estilo gregoriano.

Os nomes das vozes deste projeto são: Richard Naxton, Johnny Clucas, Dan Hoadley, Chris Tickner, Richard Collier, Gerry O' Beime, Lawrence White e Rob Fardell.