15 de março de 2012

Fantasia-Improviso

Subiu no palco
Palmas!
Vermelhas as cortinas
Que descobrem outro grito

Eis que canta!
Ouve o ar
Dança a essência
Sente o calor

Pele, olhar, ideia
Cala, ouve novamente
E salta...

Saltou.

Resposta?
Retorno?
Algum mísero olhar
Antes do trágico impacto?

Mas a surpresa!
As luzes se acendem
Havia plateia
Enfim outro noir!

Enquanto no ar
Passos alcançaram o palco
Laços abraçaram
O espetáculo de cores
E outro tom se acendeu!

Chão.

Que sons?
Que cores?
Palavras
Toques
Versos
Notas
Traços
Qual grito nascia?

Ergueu os olhos
Contornou os negros fios
Fitou os cálidos olhos
Ouviu a voz em adagio
Improvisar a cadência
Imprevisível presença

Subiu.

Há palco?
Sobram tempos no compasso
Ou as cores se suplantam?

Ah, nova surpresa!
Jamais bateu, jamais correu,
Mas ali, ansioso,
Bateu pela primeira vez
E também correu quente
Pelas artérias confusas

Luz!
O Circo tem cores
O Palco tem sons
Espetáculo multifacetado
Das infinitas palavras
Notas e traços
A dançar, como jamais
A viver, feito o pássaro
Que descobriu poder voar!

E ainda assim eu temo a queda. Vendo a calmaria indesejável se aproximar da apaixonante tormenta. Mas digo "sim". Versos demais já foram queimados, notas demais já foram libertas, mas, ainda assim, aqueles olhos negros valem esse novo ressuicídio.

Ainda que meu elísio negue, ainda que minhas páginas mostrem antigos e familiares espinhos. Ainda que um doce Curinga insista em me incitar das cinzas. Ainda que um Espelho, um Relógio e duas flores de um Jardim gritem o caminho inverso, abro as portas do Palco.

O espetáculo da mais intensa vida - e talvez do mais pungente salto - fez soar suas primeiras notas.



Escrito no Circo, em 14/03/2012, pouco depois da meia noite.

Ouvindo Rolling in the Deep, Adele.

Imagem: A Girl, by Neo-Innov.

2 comentários:

  1. Tá aí uma surpresa, não sabia que você ouvia Adele. O poema, como um todo, não me surpreendeu muito. Você continua tão inspirado quanto antes...

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    1. O poema também não me surpreendeu, Vini... O que acabou resultando no poema seguinte, "De um anacronismo espacial"...

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