9 de julho de 2012

Mudança

Findou-se o ato
Sem fôlego, pendeu o ator
Sobre o palco sujo
De letras palavras versos

Esgotou a voz
Naquele "diálogo" último
Sangrou demais os dedos
Tecendo a inútil dialética

E, quando se apaga a luz
Eis que outro tom é aceso
Em cor dodecafônica

Ele ouve, e anda
Com ouvidos procura
A fonte daquele vinho

Bebe, e lhe dá sede
Água de Alice, veneno
Doença quente no peito
A matar novas palavras

Que já não lhe basta
A realidade das palavras.
A sanidade dos versos
É para ele só inércia

Pois notas queimam
Cadências ardem frescas
No salão turvo
De memórias reinventadas

Aquele circo de dores
Trouxe ao menos força
Ao som gritante,
Antes quieto num casulo

Pois gritará.
Alçará a voz em acrobacias
Entornará a luz em si
Tempestade só, a destruir,
Para recriar com nova vida
Ou ao menos mostrar
A escuridão que se inicia.



Escrito em 25 de maio de 2012.

Imagem: Subversion, by Miriam Sweeney.

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