Uma poeta saudita que faz versos criticando clérigos islâmicos extremistas se tornou favorita para vencer um popular e milionário concurso de poesia em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Vestindo o niqab, tradicional véu islâmico que deixa apenas os olhos da mulher à mostra, Hissa Hilal recitou seu poema de 15 versos "O Caos das Fatwas", no concurso Poeta Milionário (em tradução livre), transmitido pela televisão estatal.
O poema, que faz uma crítica à influência do fundamentalismo e das fatwas - pronunciamento legal emitido por um especialista em lei islâmica quando existem dúvidas sobre como proceder em determinadas situação - na sociedade árabe, recebeu elogios do público e dos juízes.
O vencedor do concurso, que ganhará o prêmio equivalente a US$ 1,3 milhão (cerca de R$ 2,3 milhões), será anunciado na próxima semana.
Ameaças
Em entrevista ao Serviço Mundial de Rádio da BBC, Hissa Hilal dise que recebeu ameaças de morte pela internet, mas que um número maior de pessoas havia demonstrado apoio à sua iniciativa.
"A maioria das pessoas amou o que eu disse. Eles acham que sou muito corajosa de dizer o que digo. Mas também há muitos que me atacam e que dizem que sou uma má mulher e que quero que todas as mulheres sejam como eu", afirmou Hilal.
A poeta explicou que decidiu escrever o poema ao notar que "a sociedade árabe está cada vez mais fechada em si mesma e não como era antes, quando todos eram bem-vindos e mesmo um estranho se sentia aceito pela sociedade".
"Hoje em dia mesmo se você quer ser bom com as outras pessoas tem que perguntar antes se é permitido ou não falar com estrangeiros. Eu culpo aqueles que guiaram as pessoas nesta direção", disse Hilal.
A notícia é da BBC Brasil, publicada em 25 de março de 2010.
É realmente maravilhoso ver que mesmo na escuridão do fundamentalismo islâmico, pode surgir poesia. E mais: uma poetisa, uma mulher, numa cultura profundamente e radicalmente machista!
Como o escritor Franz Kafka disse certa vez, o poeta "tem uma tarefa profética". As pessoas podem até tentar acabar com a sensibilidade. Mas ela, a poesia, nunca morre.
Fonte da notícia: BBC Brasil
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