Como fosse dia
Abri porta e janela
Saboreei o vento
Sentei-me ao piano
E me despi das máscaras
Um Adagio, Largo
Até um Moderato
Em pianíssimos sabores
Teci a teia do tédio
E como fosse fraco
Privei-me de orgulhos
O que um fantasma diria?
Eu arranquei minhas raízes
Diatônicas lembranças perfeitas
Realidade atonal, cinza
Dissonantes me alimentam
A torpe harmonia do cotidiano
Como fosse cego
Falhei notas e trinados
Deixei nuances por fazer
Paixões a declarar
No enlevo dos graves
Ou na doçura dos agudos
Permaneci quieto
Meus dedos falavam
Cansavam-me as cadências
Previsíveis palavras, visíveis ambições
Tive asco das tônicas
Dominantes que nada valiam
E como fosse jovem
Permiti-me errar
Troquei escalas inteiras
Corações valiosos
Troquei por meros comuns
Modulei sétimas, nonas
Simples diminutas fiz
E corri, um Presto terrível
Aos graves desabei
Tentei dormir novamente
Mas era noite
Um tolo tentando renascer
Na mais silente melodia
Parou
Na vacilante fermata
Parou o tempo, sem mais notas
Como não houvesse motivo
De continuar, calei os dedos
Sem janelas nem portas
Como fosse só, adormeci
_____________________________________________________________
Escrito no Circo, em 03/02/2011, à 01:40h.
Ouvindo Adagio Sustenuto da Sonata ao Luar,
de L. van Beethoven
Abri porta e janela
Saboreei o vento
Sentei-me ao piano
E me despi das máscaras
Um Adagio, Largo
Até um Moderato
Em pianíssimos sabores
Teci a teia do tédio
E como fosse fraco
Privei-me de orgulhos
O que um fantasma diria?
Eu arranquei minhas raízes
Diatônicas lembranças perfeitas
Realidade atonal, cinza
Dissonantes me alimentam
A torpe harmonia do cotidiano
Como fosse cego
Falhei notas e trinados
Deixei nuances por fazer
Paixões a declarar
No enlevo dos graves
Ou na doçura dos agudos
Permaneci quieto
Meus dedos falavam
Cansavam-me as cadências
Previsíveis palavras, visíveis ambições
Tive asco das tônicas
Dominantes que nada valiam
E como fosse jovem
Permiti-me errar
Troquei escalas inteiras
Corações valiosos
Troquei por meros comuns
Modulei sétimas, nonas
Simples diminutas fiz
E corri, um Presto terrível
Aos graves desabei
Tentei dormir novamente
Mas era noite
Um tolo tentando renascer
Na mais silente melodia
Parou
Na vacilante fermata
Parou o tempo, sem mais notas
Como não houvesse motivo
De continuar, calei os dedos
Sem janelas nem portas
Como fosse só, adormeci
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Escrito no Circo, em 03/02/2011, à 01:40h.
Ouvindo Adagio Sustenuto da Sonata ao Luar,
de L. van Beethoven
Forçado, você me disse. Saiu com alguma relutância, eu diria, pois jamais contemplei tamanho sentimento em suas rimas. Me emocionei de verdade.
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