O Sonata Escarlate não pode se calar.
Não há como se calar diante dos tiros de borracha. Não há como silenciar quando o gás lacrimogêneo consome seu ar. Não há como cruzar os braços quando a injustiça lhe cobre por todos os lados. Algo está acontecendo. O tal leão adormecido
(termo que uma socialite das mais ignorantes teria usado se referindo à suposta passividade política do brasileiro) acordou, e está às voltas dos palácios com seu rugido imenso.
Diante disso, o Sonata Escarlate não pode se calar.
O poema abaixo é de Caio Augusto Leite, estudante do curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Embora não seja dos autores deste blog, traduz bem o sentimento geral. A imagem usada acima se chama The Ties that Bind, ou Os Laços que Prendem
(em tradução livre), de Michael McConnell.
Violência é ordem
Ordem é progesso
Progresso é liberdade
Liberdade é silêncio
Silêncio é paz
Paz é trabalho
Trabalho é dignidade
Dignidade é aceitar:
Mas não aceito
e não aceitar
quebra a semântica
e me subverte:
sou indigno
e vagabundo,
sou terrorista
barulhento,
sou preso,
sou retrocesso:
e então entra em colapso
o novo dicionário.
Se violento:
ordem ou protesto?
Depende.
De quê?
De quem disparou
o primeiro tiro.
É a linha que separa
o herói
do bandido:
Mas basta um botão
- de reverso -
para alterar o filme:
e quem assiste,
desatento,
não verá
que o primeiro tiro
foi o segundo,
e que na imagem
não estava saindo
mas voltando
pra dentro.
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