26 de maio de 2013

Contemplação

Kaleidoscope, by Leslie Ann O'Dell
Acordar, com a luz
Banhar-se na água calma
Acariciar a pele macia
Que agora pode descansar
Como criança a preparar sonhos
Respirar, de peito aberto
Receber no rosto claro o vento
A volupiar o corpo desperto,
Afeto da terra, do chão, e dos céus
Andar, por caminhos quietos
Afagar a estrada com os pés
Mirar um horizonte azul
Comer, com uma sincera fome,
Os frutos que vertem do tempo
Lamber os dedos, mastigar sabores
Engolindo cada grão como fosse o primeiro
E beber, ah! que sede
Beber olhares, sorver ideias
Cada gole, um novo golpe
Nas muralhas cegas e mesquinhas
Beijar, pela cumplicidade imediata
Lábios sábios e tão doces
Braços raros, que não previa
Olhar, com a paciência já vivida,
A dança de cores, luzes, criaturas
Que se fundem, e ver
A extinção de todo cinza
Ouvir, sem amarras
Cada timbre e cada textura
Todo som e todo silêncio
Escutar o universo pequeno das formigas
E a conversa longa das estrelas
Com a paz tão cálida,
E por certo mais doce
Dormir, dedos satisfeitos
Saborear um cansaço limpo
E sonhos completos
Viver, pelo prazer do sentir
Entre o frio e o fogo, a sombra e a luz
Novos dias que me sorriem



Escrito em 6 de abril de 2013,
em um caderno de pensamentos.

Em silêncio.

Imagem: Kaleidoscope,
by Leslie Ann O'Dell.

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