12 de dezembro de 2011

Poslúdio

Deito palavras frias
Não dormem, não calam
Quedei ante a visão
Cortinas fechando
A nenhuma plateia

Se o palco não abriga
Se o infernal picadeiro
De risos blasfemos recheado
Não me acolhe qual filho
Terei eu ao menos uma poltrona?

O grito verteu feliz
A face tornou a ter cor
Traços e letras e notas
Concentrados à única plateia
A arte do ressuicídio

Mas o sangue pulsou
E, da peça que fiz
Sobrou a fraca luz
A um palco exangue

É verdade que saltei
E voei com asas de cêra
Corpo rompido, no chão

Cala-te, não deduz
Detestável apócrifo juiz
Que és em tuas páginas
A me lembrar o que ali
Dedos meus destilaram

És apenas meu refúgio
Apodrecido Circo incolor
Emudece tua dança
Apaga teu som

Que eu quero o vazio
O silêncio me empresta
A audácia leviana do infeliz

Que eu quero o incolor
Sem luz me alimento agora
Da desejada força

Liberto como jamais quis.



Escrito no Circo, em 10/12/2011, às 21h.

Ouvindo Open Ground (Tristania),
Gloomy Sunday e The Art of Suicide (Emilie Autumn)

Imagem: cena de Destino, de Salvador Dalí e Walt Disney.

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