27 de abril de 2012

De um monólogo

Pois então visitei a Loucura, e ela me agarrou com braços fortes, fez-me amante, senhor e servo, até me dilacerar com suas garras de harpia.

És tu então que vem, desafiando a proteção frágil que construí? Tens nas tuas mãos flores das mais cruéis, nas tuas mãozinhas que quase amassam pétalas. Mas por que, por que não abres tua boca?

Cinza, inércia se fez da mais bela dança que valsei. Sutileza, gentileza, pergunta, e apenas o silêncio. É assim que se destróem pontes e se erguem muralhas, sabes?

E agora apontas para meus braços, derramando as pétalas mais podres, como se eu os aviltasse a cada noite em nova dança. Pequena, se sou uma Bovary, não é senão porque busco o incêncio que já encontrei em ti, e que me basta. Basta-me ainda banhar-me nas poucas brasas que ainda aquecem minha nuca, mas se vês em mim um trapezista, a saltar de corda em corda, talvez teu passado te ofusque a visão.

É verdade que já parti o espelho de Shalott, mas logo depois encontrei o fim. Não terás tais cacos, é fato, mas sinto que um certo Iago corrompe por dentro a tua força de mouro general.

Abaixa então teus braços, relaxa teus ombros. Não fui eu, Ofélia, que matei teu pai, não desejei tua queda. Mas cuida, que vais encontrar teu pântano sepulcro embaixo do salgueiro Indiferença, nascido não das minhas palavras, nem da falta delas, mas do silêncio de tuas faces multifacetadas.




Escrito em 23/04/2012, num bloco de papel.

Em preparação a um conto.

Imagem: Renaissance by Delphine Pavy.

17 de abril de 2012

Google, Doodles e outras histórias...

A criatividade não tem limites, e para mim uma das amostras mais interessantes dessa verdade é abrir a página de pesquisa do Google e encontrar diversas referências a pessoas, eventos e outros temas que marcaram a nossa história, na remodelagem do logotipo do Google.

Segundo o site Doodle 4 Google:

Divertir-se com o logotipo corporativo e redesenhá-lo de tempos em tempos é impensável em muitas empresas – mas, no Google, isso faz parte da marca. Ainda que o doodle seja antes de tudo uma maneira divertida da empresa reconhecer eventos e pessoas notáveis, ele também evidencia a personalidade criativa e inovadora da própria companhia.

Essa brincadeira recebeu o nome de Doodle, surgindo em 1999 quando Larry e Sergey, fundadores do Google, brincaram com o logotipo corporativo marcando presença no Festival Burning Man, no deserto de Nevada.

O desenho representava que o "pessoal" havia saido do escritório para prestigiar o evento e, mesmo sendo bem simples, agradou os usuários.

Um ano depois, ambos os fundadores, pediram ao atual webmaster Dennis Hwang (na época um estagiário) para elaborar um doodle em comemoração ao Dia da Queda da Bastilha. Obtendo sucesso com seu doodle, Dennis Hwang passou a Doodler-chefe, e os doodles passaram a se tornar algo regular na página inicial do Google.

No início eles marcavam apenas os feriados e eventos mais conhecidos dos usuários, porém, atualmente eles celebram grande variedade de eventos, incluindo os menos conhecidos.

Com a popularização dos doodles sua demanda aumentou, e hoje, sua criação fica na responsabilidade de uma equipe de criação. Até hoje já foram criados por volta de 300 doodles para os EUA e 700 para o resto do mundo. A equipe também se reúne regularmente para decidir quais feriados e eventos receberão os doodles, e quais serão os doodles utilizados, escolhendo os mais inovadores e criativos.

Abaixo alguns que achei mais interessante. Para conhecer mais, entre no site com os doodles já criados.

A homenagem do Google ao guitarrista Les Paul, segundo dados publicados pela Rescue Time em seu blog, custou à economia mundial R$ 268 milhões, referindo-se ao custo que as empresas tiveram com seus funcionários acessando durante o expediente de trabalho a página.


Em comemoração ao 122º aniversário de Charles Chaplin, o doodle desenvolvido foi um vídeo com pouco mais de 2 minutos, que mostra um cover de Carlitos em situações engraçadas.


Em 11 de maio deste ano o Google criou um doodle em homenagem ao 117º Aniversário de Martha Graham, com animação de Ryan Woodward, coreografia por Janet Eilber, executada por Blakeley White McGuire (principal dançarina da Martha Graham Dance Company).


Em 08 de fevereiro de 2011 o doodle foi uma homenagem ao 183º Aniversário de Júlio Verne, inspirando-se no livro Vinte Mil Léguas Submarinas, captando a sensação de explorar o mar a bordo do Nautilus (submarino do livro), a mesma sensação em ler o livro.


Em 21 de maio de 2010 o Google homenageou os 30 anos da criação do Pac Man, um jogo que, apesar de simples, diverte ainda hoje. O doodle é uma adaptação do clássico jogo, permitindo ao usuário jogá-lo, bastando para isso que se aperte o botão Insert Coin (Insira moeda), no lugar do Estou com sorte, então o usuário inicia o jogo.

O jogo também possui o modo multiplayer para 2 jogadores. Para isso, basta clicar no botão Insert Coin, e aparece a Ms. Pac Man, controlável pelas teclas WASD.


Em 15 de junho de 2011 na página inicial do Google era possível acompanhar o eclipse lunar em tempo real.

No dia 31 de março de 2011 o usuário do Google pôde brincar com o queimador aperfeiçoado pelo químico alemão Robert Bunsen, que hoje é conhecido como bico de Bunsen.


Em 11 de fevereiro de 2011, o homenageado da vez foi Thomas Edison, considerado um dos maiores inventores de todos os tempos.


Em 06 de setembro de 2010, o doodle foi o Google Instant - Particle Logo.


No dia 08 de novembro de 2010 o doodle escolhido foi uma homenagem ao físico alemão Wilhelm Röntgen, por sua descoberta há 115 anos: o Raio-X.


No dia 06 de janeiro de 2006, os usuários viam na página do Google uma homenagem ao aniversário do francês Louis Braille, inventor do sistema de leitura para cegos, cujo logo podia ser visto em Braille.


Existem muitos outros bem legais, como a comemoração do aniversário de H.R. Hertz, o de protesto contra a S.O.P.A. e a P.I.P.A., a homenagem ao aniversário de Freddie Mercury. A criatividade para informar e protestar!

Outros doodles interessantes abaixo. Adivinhe quais foram os homenageados?


Em ordem, a resposta para os desenhos do quadro:

70º Aniversário de Bruce Lee ( China, Hong Kong, Taiwan, no dia 27 de novembro de 2010), Aniversário de Charles Darwin (Global, no dia 12 de fevereiro de 2009), 112º Aniversário de Zhang Daqian (China, HOng Kong, Taiwan, no dia 10 de maio de 2011), 172º Aniversário de Cezanne (Global, no dia 19 de janeiro 2011), 95º Aniversário de Edith Piaf (França e Alemanha, no dia 19 de dezembro de 2010), Aniversário de Escher (Global, no dia 16 de junho de 2003), Aniversário de Vivaldi (Global, no dia 04 de março de 2010), 120º Aniversário de Agatha Christie (Alguns países, no dia 15 de setembro de 2010), Aniversário de Oscar Wilde (Alguns países, no dia 16 outubro de 2010), Festival da Lua (China, Hong Kong, Taiwan, no dia 22 de setembro de 2010), 110º Aniversário de Antoine de Saint-Exupery (França e Alemanha, no dia 29 de junho de 2010), 110º Aniversário de René Magritte (Global, no dia 21 de novembro de 2008), Aniversário de Pablo Neruda (Países Selecionados, no dia 12 de julho de 2009), 213º Aniversário de Mary Shelley (Reino Unido, no dia 30 de agosto 2010), Aniversário de Rumi (Turquia, no dia 30 setembro de 2008), Dia de Martin Luther King Jr. ( EUA, dia 19 de janeiro de 2009).


13 de abril de 2012

De um poema de amor

ou Pássaro de Fogo
Duvida que as estrelas são fogo
Duvida que este sol se mova
Duvida da verdade para seres mentirosa
Mas não duvides (...)
Que eu possa esquecer
__________________________________

Vê, as cores que partiram
Pelos nossos braços
Matizes vivas
A correr na pele suave

Pelo teu pescoço, tua nuca
Martírio do cárcere
A gritar liberdade

Azuis a queimar
Nos cabelos pretos
Um toque
Lascivo mergulho

E notas, leves
No crescendo interminável
Pela curva de teu dorso

E sente, o calor a nascer
Do silêncio sem cor
Um pássaro de fogo
A pousar em pequenino seio

Dedos que dançam
E prendem, ou tentam,
O momento em presto
Entre mãos que se beijam

Ouve então.
Se em teu pequeno corpo
E em meu cárcere
Nasceu tal rapsódia

E se o coda final
Não foi mais que decepção

Não foi senão sonho
Real distorção de sabores
A acordar da realidade
Para nela lançar como jamais



Escrito em um bloco de papel,
em 12/04/2012.

Ouvindo Opheliac, by Emilie Autumn.

Citação: trecho de Hamlet, W. Shakespeare.

Imagem: cena de Fantasia 2000,
sob adaptação da peça Pássaro de Fogo,
de Igor Stravinsky.

10 de abril de 2012

Invernal

Queima a tarde
Arde a noite
No silêncio das horas soltas
Caí

Vinho de diferentes taças
Mas um gole apenas
Cada fruto, a sua agonia

Tal inverno que sempre surge
Maldição divina

Pois eis que provei
Do mesmo sangue enfermo
Que já um dia me matou



Escrito no Circo, em 09/04/2012, à 01h AM.

No silêncio.

Imagem: My muse, by Leslie Ann O'Dell.

7 de abril de 2012

De uma incerteza certa

E, tendo ficado vago,
Também turvou-se a fé
Descoloriu-se
Reagindo à inércia

Que não vale o esforço
De sangrar em alimento
De repetir o mesmo ode
Não vale o levantar dos olhos

Paga, porém e com folga,
Uns versos meio mancos
Que, se não ma despedem,
Ao menos saem vivos



Escrito em 04/04/2012,
ao som do trânsito
e dos pensamentos.

Cansado da repetição.

6 de abril de 2012

Qual o valor de um livro?

Já diria alguém que o preço de um produto não tem absolutamente nada a ver com o seu valor real. Se é realmente assim, é fácil lembrar de produtos caros que não valem realmente muito, e de pequenas coisas que possuímos que valem muito. Uma foto antiga, uma anotação em um caderno, um presentinho comprado em alguma lojinha de artesanato... Um livro....

Particularmente guardo um grande afeto pelos livros que tenho. Não que eu os guarde a sete chaves (na realidade amigos acabam levando alguns dos melhores), mas eles tem um grande valor pra mim. Por isso, quando fui confrontado, há alguns dias, com a pergunta título deste artigo, fiquei um certo tempo pensando sobre o real valor de um bom livro...

Em algumas estações dos metrôs das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro é possível se deparar com aquela pergunta, e com uma agradável surpresa: máquinas contendo livros, semelhante àquelas de refrigerante. Porém, o preço não é fixado! Ao invés disso, é possível ler, em letras garrafais, acima das máquinas: Pague quanto acha que vale. Possível?

Algumas pessoas se aglomeravam em volta das máquinas, surpresas tanto quanto eu com aquilo. Alguns descrentes iam embora achando se tratar de alguma brincadeira, mas alguns livros eram pescados de tempos em tempos (inclusive pesquei o meu, Manon Lescaut, de Prévost).

Para ver os livros nesta máquina, clique na imagem

A iniciativa é da 24X7 Cultural, uma empresa com fins lucrativos cuja missão, segundo seu próprio site, é de facilitar a formação de novos leitores, incentivar o hábito da leitura de forma sustentável e consequentemente melhorar os indíces de alfabetização funcional do Brasil. A primeira máquina de livros, como é chamada pela própria empresa, começou a funcionar em 2003, na estação São Joaquim do metrô de São Paulo.

De lá pra cá, com treze máquinas em São Paulo e mais de um milhão e duzentos mil livros já vendidos, o que era um projeto experimental se tornou uma solução viável em distribuição e comercialização de livros de qualidade a um custo baixíssimo e acessível à população. A uma população que supostamente não lê. E que, segundo o próprio fundador da 24X7, compra Nietzsche, Maquiavel, Platão, Diderot e Sun Tzu - autores mais vendidos nas máquinas. Um sinal de mudança, ou uma mudança de fato?


As fotos deste artigo foram tiradas na estação Barra Funda do metrô de São Paulo.