31 de agosto de 2010

Um ano de pensamentos

No mês de agosto o blog Sonata Escarlate completa 1 ano de vida! Em comemoração a um  ano tão cheio de temas, notícias e tantas outras coisas, principalmente a surpresa com o novo, fazemos uma celebração a tudo isso. Será aqui publicada  uma série especial de artigos sobre o tema mais recorrente, e talvez o único diluído em  tudo neste blog: Música!

São três artigos sobre o tema. O primeiro, sobre a música em diferentes mitologias. O  segundo, sobre a história da música. O terceiro e último, um breve resumo sobre teoria  musical.


A música e a mitologia (1ª parte)
A música na História (2ª parte)
A música e sua teoria (3ª parte)



Boa leitura!

Sonata Escarlate

A música e a mitologia (1ª parte)

           A música é um instrumento universal de comunicação, não existe uma cultura que não possua suas músicas características, não há quem não goste. Sua origem é antiga, acredita-se que os homens pré-históricos já apreciavam música, inicialmente de uma forma ritual, sendo realizada por batidas rítmicas dos pés e das mãos. Ali o homem agradecia e pedia proteção aos deuses em suas questões.

          A palavra tem origem grega, Mousikê significa "a arte das Musas". Segundo a mitologia, a música começa após a morte dos Titãs (Oceano, Ceos, Crio, Hiperião, Jápeto e Crono), quando após a vitória dos deuses do Olimpo sobre os seis filhos de Urano, foi pedido a Zeus que se criassem divindades capazes de cantar as vitórias dos Olímpicos. Zeus então partilhou o leito com Mnemosina, a deusa da memória, durante nove noites consecutivas e, no devido tempo, nasceram as Nove Musas (Clio, Euterpe, Talia, Melpômene, Terpsícore, Érato, Polímnia, Urânia e Calíope ou Caliopéia, esta última a líder das musas).
"Atena e Musas", de Frans Vriendt
           Inicialmente as musas eram inspiradoras apenas dos poetas, porém mais tarde sua influência se estendeu a todas as artes e ciências. Também foram tardias as associações entre as musas em áreas especificas de proteção: de maneira geral, Clio se ligou à história; Euterpe, à música; Talia, à comédia; Melpômene, à tragédia; Terpsícore, à dança; Urânia, à astronomia; Érato, à poesia lírica; Polímnia, à retórica; Calíope, à poesia épica. Ainda na mitologia greco-romana existem grupos regionais de musas, tais como Méleta, da meditação; Mnema, da memória; Aede, protetora do canto e da música.
Orfeu
          Há também, outros deuses ligados à música como Museo, filho de Eumolpo, que era tão grande musicista que quando tocava chegava a curar doenças; Orfeu, filho da musa Calíope, era cantor, músico e poeta; Anfião, filho de Zeus, que após ganhar uma lira de Hermes, o mais ocupado de todos os deuses, passou a dedicar-se inteiramente à música.




Hathor
          Na mitologia egípcia a música teria sido inventada por Tot ou Osíris, contudo podemos ver a música relacionada mais à deusa Hathor. Ela ensina aos seus adeptos a dança e o sentido da festa, protetora dos vinhos, chama seus fiéis para o banquete divino.
          Na época ptolomaica, os mistérios de Hathor eram celebrados nos mammisis por uma comunidade de mulheres intituladas "perfeitas, belas e puras". As Hathor tocavam música, cantavam e dançavam depois de um passeio ritualístico pelos pântanos, onde haviam feito zumbir os papiros em honra à deusa, num rito que remonta à Criação do mundo; as Hathor eram sete, número sagrado, ligado à espiritualidade feminina.
          A superiora das sete Hathor segurava um cetro cuja extremidade tinha a forma de uma umbela de papiro. Suas irmãs envergavam, como ela, vestidos longos, estavam enfeitadas com fitas vermelhas formando sete nós nos quais o Mal ficava encerrado. Essas sete filhas da divina Luz, Rá, eram responsáveis pelo tempo de vida dos humanos e pelo seu destino. Por isso presidiam simbolicamente a todos os nascimentos e vinham visitar as parturientes.
          As serpentes uraeus que trazem na fronte lançam chamas, ora purificadoras, ora destrutivas; tudo depende da autenticidade do ser que as enfrenta. Saber reconhecer a presença das sete Hathor e suscitar a sua benevolência é uma arte difícil. Podem conceder longevidade, estabilidade, saúde e descendência, mas também estabelecem as provas e o termo de um destino. As fadas da Europa pagã foram suas herdeiras.
As sete Hathor
          Em Dendera e Edfu, as sete Hathor tocam tamboril e sistro (instrumento de percussão) em honra da deusa e do faraó que acabam de nascer. A superiora da confraria pronuncia palavras que sobem ao alto dos céus: "Tocamos música para Hathor, para ela dançamos, senhora dos cetros, do colar e do sistro, todos os dias a celebramos, da noite à alvorada, tocamos tamboril e cantamos em cadência para a senhora da alegria, da dança, da música, a dama dos encantamentos, soberana da Casa dos Livros. Como é bela e radiosa a Dourada! Para ela, céu e estrelas dão um concerto, Sol e Lua cantam louvores."

Dagda
          Na mitologia celta Dagda era o deus relacionado à música. Dagda tinha tal habilidade no manejo da harpa, e sua arte era tão bela que ele a usava para convocar as estações do ano. Arrancava também tão suaves melodias deste instrumento que muitos mortais passavam deste mundo para o outro como num sonho, e sem sentir dor alguma, sem sequer repararem nisso.

          Para os chineses a música possuía poderes mágicos e refletia a ordem do Universo. Os músicos chineses tocavam cítara, várias espécies de flautas e instrumentos de percussão. Usavam uma escala pentatônica (de cinco tons, que será abordada ainda neste artigo), principalmente.



Esta postagem faz parte de uma série especial de artigos sobre música: 


Um ano de pensamentos (introdução)
A música na História (2ª parte)
A música e sua teoria (3ª parte)


Fontes dos três artigos:

          Spectrum - Música Medieval
          CrowMusic - Música Irlandesa
          Blog Cultura Japonesa - Hogaku
          Fundação Japão - Cultura Japonesa
          Folha de S. Paulo, 24 de março de 1998 - A Música
          Wikipedia - Modos Gregos
          Wikipedia - Raga (em inglês)
          Wikipedia - Escala Diatônica
          Livro "Harmonia", de Arnold Schoenberg

A música na História... (2ª parte)


              A música é algo intrínseco à história do ser humano, e uma das suas manifestações mais antigas e importantes.
               Deixando-se de lado a mitologia, a cultura musical no Ocidente obteve seus fundamentos na Grécia. Em Roma, foram inventados instrumentos como: o trompete reto e o hydraulis, o primeiro órgão de tubos, cujo fluxo constante de ar nos tubos era mantido por meio de pressão de água.

Tradições Indianas
 
                As tradições musicais da Índia vêm desde o século XIII a.C., sendo baseada em tons, semitons e microtons, sistema conhecido como rāga, e os músicos tocavam instrumentos de sopro, cordas e percussão. Uma rāga é (parcamente) comparável a uma escala ocidental, porém vai muito além disso – até porque algumas rāgas compartilham a mesma “escala”. Basicamente, uma rāga é um conjunto de swara (notas) que denotam uma determinada ambiência. Há duas vertentes na música clássica indiana: a música Hindustani (proveniente da Índia setentrional) e a música Carnática (proveniente da Índia meridional).
              O modo básico de referência na prática Hindustani moderna (que é conhecido como suddha, ou básico) é equivalente ao modo jônico ocidental. Fazendo um paralelo com o sistema harmônico ocidental, o primeiro grau (Shadja, ou simplesmente Sa) e o quinto grau (Pancham, ou Pa) são imutáveis, e essencialmente tons sacrossantos; todos os outros intervalos, segunda, terça, quarta, sexta e sétima (respectivamente, Ri ou Re, Ga, Ma, Dha e Ni) variam de acordo com a rāga escolhida.
                Muitas rāgas Hindustani são “prescritas” para uma determinada estação, ou mesmo hora do dia.  Quando tocadas no momento determinado, tais rāgas alcançam seu máximo efeito. Por exemplo, muitas rāgas do grupo Malhar são tocadas durante o monção (ventos sazonais da mudança da estação chuvosa para a de estiagem), por serem a este associadas e terem o poder de trazer chuva. Porém, essas prescrições atualmente não são muito seguidas (até porque a maioria dos concertos acontece à noite), e no último século nota-se uma forte tendência dos músicos indianos a adotarem as rāgas da Índia meridional, que não possuem associações com horas do dia ou estações.
            Há, ainda, um sistema de classificação de rāgas já impopular, chamado rāga-rāgini. Consiste de seis rāgas “masculinas”, cada qual com seis “esposas” (rāginis) e um certo número de “filhos” (putras) e até mesmo “noras”. Rāgas e rāginis foram frequentemente ilustradas como deuses Hindus, príncipes Rajput e mulheres nobres num ciclo eterno de amor, saudade e satisfação.




A música e a Idade Média

       Em toda a história do homem, nenhuma época foi tão marcante em suas crenças, e principalmente, sua ligação cotidiana tão perto do divino quanto a Idade Média. Neste período também a música foi grandemente influenciada.
          É na Idade Média que podemos observar o surgimento e o desenvolvimento da polifonia escrita e das primeiras notações musicais. Sempre com um caráter litúrgico ou ligado a ele, também pode-se relacionar a música aos ritos de reminiscência pagã (como as festas que marcam equinócios).
           Foi na Idade Média que o amor profano foi traduzido na arte dos trovadores e a monofonia atinge seu período de maturidade no Ocidente.
          O período da música medieval é marcado pela estrutura modal praticada nas himnodias e salmodias, no canto gregoriano, nos organus polifônicos, nas composições polifônicas da Escola de Notre-Dame, na Ars Antiqua e Ars Nova e ainda na música dos trovadores.
Organetto

Os principais instrumentos utilizados nesta época foram:

* Flauta reta: que engloba as flautas doces (flauta de oito e seis furos). É classificado na Idade Média como instrumento de som suave, baixo, diferenciando-se dos instrumentos altos, como as bombardas.
* Organetto ou Portativo: é o antecessor da Gaita de Fole escocesa, possuía o nome de Portativo, porque seu executor podia carregá-lo. O primeiro centro de construção de órgãos na Idade Média foi Bizâncio.
* Saltério: suas cordas são estendidas em todo o seu comprimento acima da caixa de ressonância, ao contrário do principio da harpa. É tocado pinçando-se as cordas com os dedos ou com plectro. Aparece em uma escultura da catedral de Santiago de Compostela do século XII.
Saltério
* Rabeca: instrumento de cordas friccionadas, escavada em uma só peça de madeira. Suas formas variam entre ovais, elípticas ou retangulares. De proporções menores do que a viela de arco, tem um som agudo e penetrante.
* Flauta Dupla: instrumentos de sopro duplos são reconhecidos desde a Antiguidade. A flauta dupla foi bastante utilizada desaparecendo somente no século XVI.
* Percussão: praticamente não existia antes do século XII, salvo nos jogos de sinos (Cymbala) utilizados nos mosteiros. Vindos provavelmente do Oriente, entre o século XII e XIII, apareceram na Europa os tambores de dois couros, o pequeno tambor em armação, que por vezes era dotado de soalhas, ou pandeiros, címbalos de dedos e outros.
Alaúde
* Harpas: as harpas são reconhecidas por sua forma aproximadamente triangular e pelas cordas de comprimentos desiguais estendidas em um plano perpendicular ao corpo sonoro. As cordas são presas por cravelhas, e podem variar, no número, de 7 a 25. A pequena harpa portátil teve sua origem na Irlanda, com a vinda dos monges irlandeses.
* Alaúde: o alaúde foi introduzido na Europa pelos mouros, no século XII, mantendo seu nome árabe (A'lud, que se tornou Laud na Espanha, depois Luth na França).


          Em muitos momentos a música se torna elemento fundamental, e representativo da cultura de um povo, como podemos observar na música irlandesa, onde durante um longo período de dominação britânica as canções se tornaram uma forma de patriotismo e cultura. 



Música Celta e Música Irlandesa

          Em termos gerais, o termo 'celta' define a música tradicional das nações celtas - especialmente Irlanda, Escócia e Bretanha francesa - e também a música preservada pelos imigrantes dessas terras celtas nos EUA e no Canadá. De forma alguma, contudo, pode o termo "música celta" referir-se à música produzida e executada pelos celtas da Idade do Bronze, por um motivo muito simples: não há o menor registro de como era a música daquela época.
             Portanto, podemos dizer que, se o termo "música irlandesa" é bastante abrangente, o termo "música celta" é ainda mais! Ambos se misturam e se mesclam, o que pode soar um pouco confuso a quem estabelece contato pela primeira vez com os estilos, mas a exposição constante e ouvidos atentos logo facilitam a compreensão.
              A música é seguramente uma das mais preciosas manifestações da alma humana. Por seus feitos, alguns indivíduos ultrapassam os limites de seu tempo e entram para a história como guardiões da tradição musical de um povo. Abaixo, alguns dos nomes mais importantes para a formação da Irish Trad Music.

Turlough O'Carolan:
Impossível falar de música irlandesa sem mencionar Turlough O'Carolan, o harpista cego que deixou os primeiros registros da música irlandesa ainda no séc. XVIII. Seu intercâmbio com compositores continentais fez dele um nome conhecido em outras terras, e também garantiu a introdução de outros elementos musicais à sua arte. Sua música era predominantemente composta para a harpa, instrumento tradicional dos bardos e poetas da Irlanda celta, e o fato de O'Carolan atuar como músico itinerante faz dele um herdeiro direto da tradição dos poetas celtas da Irlanda medieval e pré-cristã. Após O'Carolan, muito por força da opressão cultural e política britânica, a música irlandesa não produziu nenhum nome de vulto até seu renascimento já no século XX.



Sean O'Riada : O "pai" da música tradicional irlandesa nasceu John Reidy, em 1931, mas logo adotou a versão 'gaelicisada' de seu nome por amor à sua cultura e sua nação - amor que fica evidente já em seu primeiro trabalho de vulto: a trilha sonora composta para o filme "Míse Éire" ("Eu sou a Irlanda", 1951) sobre o nascimento da nação irlandesa. Anos mais tarde, O'Riada criaria e dirigiria o mítico Ceoltóirí Chualann, grupo que resgatou muitas músicas tradicionais que estavam condenadas ao desaparecimento nos rincões rurais da Irlanda e, através de programas televisivos, garantiram que tais músicas fossem conhecidas pelas novas gerações.



Tradições Japonesas

             O Japão é um país de cultura milenar, no entanto, a influência da música ocidental, que foi introduzida no século 19, tornou-se popular rapidamente, ofuscando em muitos momentos a música tradicional.
             O Hogaku é o nome da música tradicional japonesa, existindo vários tipos:
             O Min' yo (música folclórica japonesa), refere-se às músicas de tradição oral ou de autores anônimos cantadas pelo povo. Contudo, também inclui músicas clássicas, teatrais, ou ainda populares urbanas. Algumas músicas são somente instrumentais, enquanto outras são utilizadas como acompanhamento de danças, festivais e rituais. Existem outros tipos de min'yo, que são considerados híbridos com o estilo ocidental, onde os intérpretes utilizam tecnologias diversas.
            O Kayokyoku (música popular japonesa) é o estilo comumente apreciado no Japão, junto com o pop. O primeiro sucesso kayokyoku foi "Kachusha no Uta", de 1914.


Gagaku: era comumente executado nas cortes da China e Coréia, sendo um dos mais velhos tipos de música tradicional japonesa.

Biwagaku:
música executada com o biwa, um instrumento semelhante ao violão, com 4 cordas.

Nogaku: c
onsiste em um conjunto formado por: hayashi (flauta), tsuzumi (tambor) e outros instrumentos.

Shakuhachi: música predominantemente executada pelo shakuhachi. O shakuhachi é uma flauta japonesa vertical com 5 buracos, feita da base do caule de bambu; tem cerca de 54,5 cm de comprimento. A origem e a introdução do shakuhachi no Japão são desconhecidas. Apenas é certo que no século 14 existiu um ancestral de shakuhachi de 5 cavidades. A origem de shakuhachi está ligada ao monge budista Fukeshu, do Período de Morokoshi da China, e no Japão teria sido introduzido por Kakishin, um monge zen-budista da Era Kamakura (1185-1333), mas como não há uma prova circunstancial não se considera como um fato histórico.
Somente a partir do século XVII foi possível confirmar a existência do shakuhachi no budismo Fukeshu. O shakuhachi era utilizado nas três seguintes situações:

1) Fazia parte do culto budista;
2) Mendicância religiosa;
3) Um meio para a prática zen-budista.

         Nessa época nasceram as músicas zen e para meditação para serem tocadas com shakuhachi, músicas que só os monges tinham permissão para executar.
Shamisenongaku: música executada usando o shamisen, que foi introduzido no Japão na metade do século XVI. O instrumento foi inspirado no "sanhsien" chinês e espalhou-se no Japão por meio dos okinawanos, que o chamavam de sanshin. Semelhante ao banjo, possui três cordas que são tocadas com um plectro (bachi) de marfim, madeira, carapaça de tartaruga e, mais recentemente, plástico, de formato triangular. Seu “corpo” é coberto de pele de gato e de cachorro. Já o sanshin (shamisen de Okinawa) usa pele de cobra e o instrumento tem o braço mais curto. O shamisen, quando tocado em conjunto com koto e shakuhachi, passa a ser chamado de “sanguen”.


Sokyoku: música executada por koto, que tardiamente sofreu o acompanhamento pelos shamisen e shakuhachi. O koto foi trazido da China no século XI; é uma espécie de cítara japonesa. A caixa é feita de madeira, medindo aproximadamente 180 cm de comprimento por 30 cm de largura. Geralmente, esse instrumento possui 13 cordas, cada uma esticada sobre uma espécie de cavalete e tocada com as duas mãos, sendo que na direita são colocados plectros nos dedos polegar, indicador e médio. Durante o Período Meiji, esse instrumento tornou-se muito popular, especialmente entre as mulheres.


Shiguin: estilo que hoje conta com poucos seguidores. Trata-se de uma manifestação, como a própria palavra sugere, da arte de recitação de poema (chi) chinês ou japonês com entonação japonesa, obedecendo a uma linha melódica uniforme, com acompanhamento de um determinado instrumento e que pode ser dos mais variados, em especial o koto e o shakuhachi, mas poderá ser violino, piano e outros.

              Estes estilos foram por muito tempo representativos das classes sociais no Japão: o gagaku na corte, o nogaku para os samurais, o shamisen do povo, o shomyo dos templos e o min'yo dos camponeses, por exemplo.

O TAIKÔ
Dizem que o som de um grande tambor se assemelha à batida do coração de mãe, ouvido e sentido no interior do ventre materno.

              Antigamente, no Japão, o tambor era considerado símbolo da comunidade rural. Diziam que o limite da aldeia era determinado não só geograficamente, mas também pela distância em que a batida do tambor era audível.
              Registros comprovam que o taikô está presente na música japonesa há cerca de 1.500 anos, escreve Masahiro Nishitsunoi, estudioso de música japonesa. O tsuzumi (tamboril com formato de uma ampulheta) aparece nas pinturas do final do século XII, e no final do século XIV ele se incorpora às apresentações de teatro nô.
            O taikô está ligado, na maioria das vezes, às festividades xintoístas. A apresentação do conjunto de taikô como evento musical artístico surgiu somente depois da Segunda Guerra Mundial, e estimulou a sua difusão por todo o Japão, ressuscitando essa arte de percussão.


Esta postagem faz parte de uma série especial de artigos sobre música: 


Um ano de pensamentos (introdução)
A música e a mitologia (1ª parte)
A música e sua teoria (3ª parte)


Fontes dos três artigos:

          Spectrum - Música Medieval
          CrowMusic - Música Irlandesa
          Blog Cultura Japonesa - Hogaku
          Fundação Japão - Cultura Japonesa
          Folha de S. Paulo, 24 de março de 1998 - A Música
          Wikipedia - Modos Gregos
          Wikipedia - Raga (em inglês)
          Wikipedia - Escala Diatônica
          Livro "Harmonia", de Arnold Schoenberg

A música e sua teoria (3ª parte)

           A música, basicamente, nasce e divide-se em duas partes: a primeira é a voz humana, que busca expressar sentimentos; a segunda pode ser observada no soar em conjunto de vozes. A primeira representa a raiz da música vocal (também expressa no canto em uníssono) e a segunda, a raiz da música instrumental.
          O ritmo é a alma da música, ele provavelmente teria se originado nos movimentos do corpo humano, e daí teriam surgido os primórdios musicais. Ele é tão importante que é o único elemento que pode existir independente dos outros dois: harmonia e melodia.
          Outro elemento importante é a harmonia, que responde pelo desenvolvimento da arte musical. Foi da harmonia das vozes humanas que surgiu a música instrumental.
          A melodia é a expressão das capacidades musicais, desenvolvida através da união da língua, da acentuação das palavras, enfim, da fala e seus maneirismos, formando assim uma sucessão de notas características que resultam em um padrão rítmico e harmônico reconhecível.

          A junção destes elementos forma as consonâncias e dissonâncias. A primeira corresponde basicamente aos sons que para nossos ouvidos são harmônicos, e dissonância se refere ao contrário disso, ou seja, o que nos soa desagradável. Contudo, isso não forma um padrão; este conceito pode variar de país a país, e até mesmo pode mudar junto com as épocas. Um exemplo são certos acordes, que eram considerados dissonantes (e inclusive pagãos) na Idade Média, e que aos ouvidos atuais são considerados perfeitamente consonantes. E estas diferenças podem se tornar ainda maiores quando comparamos a música ocidental, a indiana e a chinesa, podendo-se perceber até mesmo paradoxos.
          Cada povo possui suas consonâncias e dissonâncias, refletindo sua cultura, sua identidade, sua subjetividade, enfim, a história de cada povo. Assim, a música basicamente é a expressão dos sentimentos através de sons combinados de modo artístico; ou ainda a ciência que pertence aos domínios da acústica, e que se modifica de acordo com as culturas.
 Definições

          A música é feita de sons, tradicionalmente descritos segundo quatro parâmetros:

- Altura: frequência definida de um som. É o que diferencia um som de um ruído. Não confundir com volume (intensidade).

- Ritmo: distribuição inteligível dos sons (e silêncios) no tempo.

- Intensidade: a força relativa de um som em relação a outros.

- Timbre: qualidade dos sons. Diferencia a mesma altura tocada em dois instrumentos diferentes.

- Enarmonia: apesar do nome estranho, é algo bem simples: quando um mesmo som pode ser atribuído a duas notas diferentes. Por exemplo, lá sustenido (A#) e si bemol (Bb), si sustenido (B#) e dó (C), e assim por diante. O conceito de enarmonia só passou a fazer sentido com o advento da escala cromática (com todas as notas possíveis da escala), pois antes tais notas “iguais” realmente eram encaradas como diferentes.

- Melodia: "Toda e qualquer sucessão inteligível de sons" é uma definição suficiente para abarcar os mais variados estilos. Na linguagem cotidiana, "melodia" refere-se a uma sequencia de alturas com ritmo definido e sentido de conjunto. A melodia é o que você assobia quando se lembra de uma canção. Por analogia à leitura de partituras, onde cada nota é escrita ao lado da outra, diz-se que a melodia representa a dimensão horizontal da música.
- Harmonia: Combinação inteligível de várias alturas soando ao mesmo tempo. Cada combinação forma um acorde; a harmonia é a lógica da formação e sequencia dos acordes. Se a melodia é a dimensão horizontal, a harmonia é sua dimensão vertical. Ela não se limita à elaboração de acordes, mas também à relação entre eles. A harmonia é um sistema hierárquico: alguns sons são mais importantes do que outros para a música. Academicamente, pode ser chamada de “ciência de concatenação de acordes”, e é tida como ‘ciência-mãe da música, pois em nenhum outro parâmetro relativamente autônomo do som, tal como a intensidade ou mesmo a duração, tem-se um tal grau de articulação possível como o que se tem no domínio das alturas’ (retirado do prefácio de Flo Menezes à edição brasileira de Harmonia, de Schoenberg).

- Contraponto: Arte de sobrepor duas ou mais melodias. Há vários tipos possíveis de contraponto (ou polifonia); a noção básica a todos é a criação de várias melodias independentes, que soam ao mesmo tempo na composição. Cada uma das quatro vozes de uma peça coral (soprano, contralto, tenor e baixo) tem sua linha melódica própria, que se combina com as demais. As "vozes" de uma composição instrumental seguem o mesmo princípio.

- Tonalidade: Sistema de organização musical, predominante desde o período barroco (século XVII) até o início do século XX. A tonalidade estabelece uma sintaxe da composição, baseada na hierarquia de notas e acordes. De acordo com esse sistema, a nota mais importante de todas é o primeiro grau da escala (tônica), seguida pelo quinto (dominante) e pelo terceiro (mediante). Outras notas geram tensão ('dissonâncias') e devem ser 'resolvidas' retornando às primeiras. Os acordes básicos são 'tríades': uma nota fundamental, mais a terça e a quinta (dó-mi-sol, ré-fá-lá, mi-sol-si etc). Toda peça tonal está centrada necessariamente no acorde de tônica; e tem de procurar maneiras de se afastar e retornar a ele. A hierarquia tonal reproduz, aproximadamente, a estrutura interna do som (que fisicamente é uma sobreposição de comprimentos de onda, alguns mais fortes do que outros). A tonalidade é, de fato, uma forma extraordinariamente integrada de pensamento musical: a organização interna de cada som espelha-se na hierarquia, nas seções e mesmo na forma musical inteira (as seções resolvem-se umas nas outras da mesma forma que os graus da escala). Esta dinâmica de atrações e repulsões promovida pela tonalidade permite a elaboração de narrativas musicais complexas. Escutar uma peça tonal é acompanhar (consciente ou intuitivamente) esse drama em notas. A enorme maioria das obras que se conhecem como 'música clássica' são tonais. Mas o período tonal não é muito longo na história da música: no sentido estrito, a tonalidade existe do meio do barroco ao fim do romantismo, aproximadamente 250 anos. Ainda hoje há compositores que escrevem música tonal, mas a tonalidade chegou a um limite com os compositores modernistas e deixou de ser a corrente mais importante do pensamento musical erudito há pelo menos 70 anos.


 A estrutura modal e a harmonia moderna

          A estrutura modal, apesar de ter sido utilizada largamente a partir da Idade Média, não surgiu nessa época, mas remete aos modos gregos. Tais modos (compilados pelo papa Gregório I – e que daí se origina o termo gregoriano) eram utilizados nas diferentes regiões da Grécia antiga. Os modos gregos originais são: o modo jônio, ou iônio (da região da Jônia), o modo dórico (da região de Dória), o modo frígio (da Frígia), o modo lídio (da Lídia) e o modo eólio (da Eólia). Há também outros dois: o modo mixolídio, que é uma fusão dos modos lídio e dórico, e o modo lócrio. Este último, criado posteriormente por teóricos da música para completar o ciclo, é de pouca usabilidade prática e raríssima utilização, apesar da música erudita e popular – principalmente o jazz – do século XX utilizar a quarta aumentada largamente, pois a tensão provocada pela dissonância pode ser usada para finalidades expressivas. Mesmo assim, o modo lócrio raramente é usado em sua totalidade.
          Desde a Grécia antiga os modos eram utilizados de acordo com a música que seria executada. Assim, se por exemplo a música faria parte do culto a um determinado deus, então deveria ser executada em determinado modo. Porém, com o temperamento da escala (quando se encontram todos os intervalos possíveis entre as notas, incluindo todos os semitons) e a estipulação de uma afinação padrão, os modos gregos perderam gradativamente sua importância, visto que a escala cromática (com todos os semitons) engloba todos os modos.
          Eles foram, então, classificados em “maiores” e “menores”, como segue:

Modos maiores: jônio, lídio e mixolídio
Modos menores: dórico, frígio, eólio e lócrio (este podendo também ser classificado como diminuto).

          O modo jônio é, notadamente, o que conhecemos como escala maior padrão, e o modo eólio é a atual escala menor padrão.
          Atualmente, para se utilizar os modos gregos, é preciso ter conhecimento sobre harmonia, para se poder entender os encadeamentos harmônicos que cada escala modal propõe. Porém, mesmo não tendo mais tanta aplicabilidade prática, os modos gregos influenciaram toda a harmonia – e, por consequência, a música – ocidental.

A escala diatônica

          Alguém que comece a aprender algo sobre teoria musical se deparará, logo no começo, com as conhecidas notas: dó, ré, mi, fá, sol, lá e si. Essas notas – que apenas possuem esses nomes no Brasil e em mais alguns outros países (na vasta maioria dos países cada nota é representada somente por uma letra: C, D, E, F, G, A e B, respectivamente) – são a base de todo o aprendizado em teoria musical. Mas esse mesmo alguém pode – como eu e certamente mais outras pessoas – em algum momento se perguntar: por que existem apenas 7 notas, e por que justamente estas, com essa sonoridade? A resposta, assim como no tópico anterior, está na Grécia antiga.
          O sábio grego Pitágoras acreditava que tudo no Universo era regido por números. Assim, ele notou que uma corda esticada, quando posta em vibração, emite um determinado som. Porém, se o comprimento dessa corda for reduzido à metade, um som mais agudo é produzido, que guarda uma relação muito interessante com o primeiro. Para variar o comprimento da corda, basta pressioná-la na posição desejada, e assim a parte vibrante é reduzida (como em um violão ou violino).
           Pitágoras dividiu assim a corda em frações determinadas: 1/2, 1/3, 1/4 e 1/5. Supondo que a corda esteja afinada em dó (a afinação em si é totalmente arbitrária, o que valem são os intervalos), tais frações geram as notas dó (“oitavada”), sol, fá e mi, respectivamente. Como toda nota é gerada por determinada frequência, e como a frequência é inversamente proporcional ao comprimento da corda, atribuindo o valor 1 à frequência fundamental da corda, obtêm-se as seguintes frações: mi = 5/4, fá = 4/3 e sol = 3/2.
          Assim, as notas musicais são geradas a partir de relações numéricas simples com a frequência fundamental: multiplicando a frequência da corda por 2, obtém-se uma nota que recebe o mesmo nome da anterior (nota oitavada), por exemplo. Pode-se notar nas frações já citadas que a quinta, ou dominante (no caso o sol, ao supormos que a corda está afinada em dó) possui a relação 3/2.
          Assim, para descobrir as outras notas que faltam na escala, basta multiplicar as frequências (ou frações) das notas já encontradas por 3/2. A partir do mi obtém-se o si (si portanto é dominante de mi), do sol obtém-se o ré, do fá obtém-se o próprio dó e, a partir do ré, obtém-se o lá, completando assim a escala diatônica.
           A escala diatônica (ou escala de sete notas) possui cinco intervalos de tons e dois intervalos de semitons entre as notas. Este padrão se repete a cada oitava numa sequência tonal de qualquer escala. A música ocidental e a fundação da tradição musical europeia utilizaram e utilizam largamente a escala diatônica (por isso conhecemos as notas de cor). Todos os sete modos gregos são diatônicos, assim como as escalas modernas maior e menor (que, como já explicado, “descendem” dos modos gregos).





Esta postagem faz parte de uma série especial de artigos sobre música: 


Um ano de pensamentos (introdução)
A música e a mitologia (1ª parte)
A música na História (2ª parte)



Fontes dos três artigos:

          Spectrum - Música Medieval
          CrowMusic - Música Irlandesa
          Blog Cultura Japonesa - Hogaku
          Fundação Japão - Cultura Japonesa
          Folha de S. Paulo, 24 de março de 1998 - A Música
          Wikipedia - Modos Gregos
          Wikipedia - Raga (em inglês)
          Wikipedia - Escala Diatônica
          Livro "Harmonia", de Arnold Schoenberg

10 de agosto de 2010

Iminência

          Ah se eu realmente pudesse... Pois então eu me empanturraria como todo mundo dessa farta leviandade dos corações. Então eu me banharia nesse riso leve, nessa alegria banal que a todos acomete o tempo todo, como uma chaga cujo sintoma maior é a própria vida; eu calaria o meu prazer libertino na dor, encerraria em meus porões a preferência pelos dias chuvosos, pelas horas desfeitas, a minha escolha pelo adeus em oposição a mil olás. E me parece claro, dadas as circunstâncias, que, se eu pudesse, se eu realmente pudesse, então talvez eu alcançaria esse nirvana das emoções, esse eterno orgasmo dos sentimentos; talvez eu alcançasse o último raiar do sol e conseguisse esticá-lo, e assim cobrir a noite, e assim aquietar o silêncio. Mas, como bem sabes, meu caro, eu não posso.
          Faltam-te o quê? quatro ou cinco passos, contando com o que dou neste momento. Lembras de nossa primeira noite, nosso primeiro momento, e de como eu estava fartamente vestido de esperanças? Mas tu, ah, sempre te mantiveste fielmente despido de quaisquer olhares ao horizonte. Sempre riste o amargo riso do escárnio rancoroso diante das flores. E tens de admiti-lo, tu, mais do que todos os outros, ofertaste a mim muitas flores. E eu, como bom amante de tuas, nossas palavras, sempre aceitei tais flores, com o doce sorriso da esperança renovada.
          Faltam-te o quê? mais tantos e tantos versos para sussurrarmos juntos, e mesmo assim já suscitas de mim soluços pela iminente despedida. Quem virá após ti? Quem poderá me ensinar algo que tu, em todas as frias tempestades, já não me tenhas feito aprender? Quem apanhará minha mão, e não a recusará por estar gelada? Quem, afinal, poderá vencer tua voz?
          Faltam-te o quê? um, e outro, e talvez mais dois abraços, e então irei embora. E eu bem sei que tu, em tua habitual frieza - porque jamais alguém foi tão calidamente frio como tu para mim - não me pedirás para ficar. Não. Eu então me virarei, e como um fraco te darei a chance de me apanhar de volta. E obterei um singelo adeus como resposta.
          Faltam-te outras flores? mais árvores? outros lobos? mais pássaros? Não! A ti não falta nada! Tu sempre foste completo, um deus perante quaisquer ponteiros ou reflexos. Talvez apenas nos falte uma última tempestade, ou algumas, mas já não importa. Pois aqui estou, diante de ti, e diante de ti, apenas, eu pude ser sincero. Qual tua reação? Lágrima, riso, indiferença? Não... desde sempre, quando me prostro aos seus pés, quando grito aos céus com a boca vendada diante de ti, tu me olhas com o profundo olhar, o sincero olhar empático que, se não me levanta, ao menos me permite deitar em paz.
          Pois falta-me tudo, meu mais caro amigo, falta-me tudo! Pois, em tua plenitude, eu me tornei amante, não de risos ou volúpias, mas do vazio. E talvez até, numa noite ainda aparentemente distante, eu possa voltar a ti, e te dizer ao pé do ouvido, quando não mais me esperares, quando não mais te lembrares de mim  – cometerás essa virtude? –, então te direi, num cálido sussurro, direi a ti, meu amado Jardim, que eu consegui. Perguntarás, com olhos de saudade, o que afinal eu consegui. E eu te abraçarei, e neste póstumo e gélido abraço eu confessarei ao teu ouvido:
          "Eu amei!"

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Escrito no Jardim, em 09/08/2010, às 03:20h.

1 de agosto de 2010

Alice Sara Ott


"Mademoiselle Liszt - A jovem pianista Alice Sara Ott... suscitou um truque de mão após outro do instrumento, em uma exibição de tirar o fôlego, de virtuosismo temperado por um brilho de charme poético."
 Basler Zeitung, maio de 2008.

Alice Sara Ott nasceu em Munique em 1988 e recebeu suas primeiras lições no piano quando ainda tinha apenas quatro anos. Desde então, a pianista, filha de pai alemão e mãe japonesa, venceu inúmeras competições importantes e marcou presença em salas de concerto e festivais na Europa, no Japão e nos EUA; estudando com Karl-Heinz Kämmerling no Mozarteum Salzburg, ela se tornou um dos nomes mais proeminentes da música erudita moderna.

Aos sete anos, Alice alcançou o primeiro lugar, com distinção, na importante competição alemã Jugend musiziert (algo como "Música da juventude"). Esta premiação foi seguida por prêmios nas competições Steinway, Grotrian Steinweg, Bach Cöthen e outras, incluindo a 4ª Competição Internacional da EPTA (Associação Europeia de Professores de Piano). Aos quinze anos ela venceu em primeiro lugar (o Prêmio Silvio Bengalli) na Competição Pianello Val Tidone na Itália como a mais nova competidora e com a mais alta pontuação já alcançada na história da competição.

Alice conseguiu alcançar uma especialidade incomum em tocar os doze "Estudos Trancendentais" (Transcendental Etudes) de Franz Liszt (tido como um dos mais virtuosos pianistas e compositores da História) e arrancou elogios da crítica por suas apresentações ao vivo na Alemanha e na Suíça. Seu recital triunfante em Herkulessaal, Munique, em Janeiro de 2007, tocando a Sonata Waldstein de Beethoven e os Estudos de Liszt, recebeu o extraordinário elogio no Jornal Süddeutsche: "Ott empresta um charme poético irresistível e todo pessoal à sua explêndida música, transportando seus ouvintes a um deleite extático". Em maio de 2007, no Festival de Piano Ruhr, suas performances da Sonata Apassionata de Beethoven e os Estudos de Liszt alcançaram destaque similar. Dois meses depois, no Festival de Música Schleswig-Holstein, ela conseguiu tanto o prêmio da audiência como o prêmio especial do próprio festival. Em 2008, Alice fez sua estreia em Nova York, tocando um programa sobre Liszt no Centro Artístico Yamaha, e tocou os Estudos de Liszt várias vezes na Alemanha e na Áustria.

Foi natural, então, quando Alice Sara Ott escolheu os Estudos Transcendentais de Liszt como seu repertório de estreia na Deutsche Grammophon - importante gravadora alemã de música clássica. Assim, em maio de 2009, ao ingressar na Deutsche Grammophon, ela gravou os 12 Études d'exécution transcendante, e novamente fez com que a crítica especializada se prostrasse aos seus pés. Isso porque os Estudos de Liszt são tidos, principalmente na sua segunda versão, de 1838 (a versão final, com algumas revisões feitas por Liszt, foi publicada somente em 1851), como um dos mais duros desafios na literatura pianística universal. Com exceção dos Estudos opp. 35 e 39 de Alkan, nenhuma outra peça musical já passou os Estudos em dificuldade, e mesmo assim Alice, então com 19 anos somente, aceitou o desafio.

Dando sequência à sua promissora jornada na música clássica, Alice Sara Ott gravou em janeiro de 2010 as Valsas de Frédéric Chopin. Fã declarada de Chopin, e de toda a sonoridade, ambientação e sentimento que o autor romântico empresta a toda a sua obra, Alice interpreta as Valsas com um sentimento, uma leveza e uma técnica incomuns (e raras de se ver e ouvir, falando de Chopin). Diferente da maioria dos intérpretes de Chopin, que prezam a técnica acima de tudo e se esquecem do romantismo, da dramaticidade da obra, Alice mergulha em toda a profundidade infinita de Chopin e, o que é melhor, sabe fazer do ouvinte um companheiro nessa jornada. Mesmo ouvindo-a pela primeira vez tocando Chopin, é possível entender, apreciar e se comover com as melodias, harmonias, delicadezas, sutilezas e, ainda, a agressividade sempre presentes e únicas das músicas.

Desde a primeira vez que ouvi Alice me encantei. E o que é mais curioso é que cheguei até essa maravilhosa pianista de maneira inusitada, visitando o site de uma marca de piano... Sua interpretação de La Campanella, de Liszt, e de várias peças de Chopin, me deixaram sem ar (e não estou exagerando!). Sua interpretação da conhecida Rapsódia Húngara nº 2 de Liszt (que já foi usado em um episódio do Tom e Jerry e também do Pica-Pau) é simplesmente incrível. Claro, é preciso dizer que há alguns pequenos erros, mas a dramaticidade, e o improviso antes do coda final são brilhantes!

Para quem deseja apreciar todo esse virtuosismo, há vários vídeos no Youtube, dos quais listarei aqui alguns.






E, apenas por curiosidade, a virtuose também desenha!


Fontes:

Alice Sara Ott (Site oficial)
Deutsche Grammophon
Alice Sara Ott: Liszt (Site do álbum)
Alice Sara Ott: Chopin (Site do álbum)

Amazon.com: Alice Sara Ott